O Monstro
Um dia acordou e assustadoramente ele estava lá.
Não acreditava naquilo. Como aquele monstro poderia ter saído dela?
Instinto de sobrevivência (saída de emergência): é matar ou morrer.
É, matar os nossos monstros dói menos do que enfrentá-los. E ela não queria viver isso de novo. Não queria.
Se decidiu. É sangue.
E o monstro parecia não perceber nada. Estava deitado lá no berço, com um sorriso de ingenuidade que só seres com pouco dias de nascido conseguem ter. Mas grandes fantasmas nos assustam com sorrisos né ?
Foi até o porão que não entrara desde a vez que teve de enterrar os seus cachorros de estimação envenenados.
Ah, mãe... Por que ?
Por que fez isso? Eu amava tanto eles..
Numa onda de dor, mágoa e revolta a coragem então veio aliviá-la e ela não hesitou em pegar a velha enxada usada para enterrar os seus amáveis pinches. Estava contente.
Enfim, acho que agora a dor se vai..
E eu nunca mais vou me sentir assim.. Nunca mais.
E foi até o seu quarto onde o medo se encontrava e num delírio desses de super heróis que se vingam e buscam justiça no mundo ela então pegou aquela criatura sorridente de dois dias de vida pelos braços e não conseguiu ouvir um choro sequer desse demônio. Ela estava muito mais morta por dentro. E enquanto caminhava, sua alma chorava queimando suas feridas escondidas.
Começo a cavar. E enquanto cavava, lembrava de cada cachorro que enterrou contra sua vontade quando tinha apenas sete anos. As lágrimas corriam e brilhavam em seu rosto.
“Por que você fez isso mãe ? Por que ?”..
E o buraco estava feito. Ela via o rosto de sua mãe na cova nesse instante. E tomou-se de um imenso ódio e num desespero súbito de um provável arrependimento, devido a pouca humanidade que ainda lhe restava, chutou o monstro para o buraco como se fosse um saco de lixo.
Pronto.
Nunca mais monstro, nunca mais dor, nunca mais revolta, nunca mais cachorro.
Nunca mais mãe.
O monstro então enterrado e silenciado, estava dormindo profundamente num quarto escuro da sua memória de onde ele nunca deveria ter saído.