só mais um vazio...

Na minha frente às pessoas passam, cada qual envolta em seu próprio mundo, dispersa e preocupada demais com o nada. Eu olho para a multidão que me cerca, sinto-me perdida, quase claustrofóbica no meio daquela gente tão apresada, correndo para chegar a algum lugar, indo para suas casas nesse final de tarde, fechando-se em suas próprias vidas.

Fico parada no meio daquele vai e vem, vendo o sol morrendo por detrás de grandes e imponentes prédios. O dia vai se despedindo, os últimos raios de sol pintam o horizonte de um laranja suave. Mas parece que só eu estou vendo isso, os outros estão ocupados demais. A correria do lugar parece contagiante, pois até eu quase saio caminhando apressadamente. No entanto não tenho motivos para ter presa, não tenho nenhum lugar para ir, não tenho ninguém me esperando, nem ninguém que vá querer saber onde estive. Um sorriso brota em meus lábios, um pouco opaco e sem vida, talvez até um pouco triste.

Eu consegui. No final era realmente isso que eu queria.

Pela terceira vez alguém, no meio da confusão, esbarra no meu ombro, sussurro um pedido de desculpa, mesmo sabendo que não tem necessidade, afinal não tinha sido eu que tinha esbarrado e também porque sabia que ninguém ouviria e nem responderia, minha voz ficou no vácuo e se desfez sem ser percebida.

Com passos quase inconscientes sai do meio da calçada e me sentei em um banco vazio na praça. Ninguém parecia me notar ali, era uma sombra na noite que já vinha chegando. Um por um os postes forram acendendo, para deixar a escuridão menos assustadora, e à medida que a noite se firmava a rua foi esvaziando, as pessoas sumindo, até restar só eu ali. Poderia ter criado raízes de tão imóvel, não tinha forças para me movimentar, nas minhas veias parecia que corria uma solução de água e açúcar, não tinha animo para me mover.

Olhei o vazio na minha frente, e o que estava dentro de mim, faltava algo, algo que não sabia o que era. Queria correr, fugir e me esconder, como uma avestruz enfiar a cabeça num buraco.