Mais uma noite
Vazio... É só o que sinto.
Encostado a uma parede observo as pessoas. Procuro por uma que possa ser minha hoje, mas ainda não encontrei. Uma que eu possa chamar de minha; Só por hoje.
Busquei por meio aos olhares, mas não achei. Procurei em meio aos sorrisos, e não encontrei.
Por fim, decido procurar em outro lugar. Desencosto da parede e acabo esbarrando em uma moça. Antes que eu possa esboçar um pedido de desculpas qualquer, ela já havia ido, esbravejando. Nem mesmo vi seu rosto.
Procurei por alguma festa, ou coisa do tipo. Não foi difícil encontrar algum lugar assim. Nunca era problema numa noite como essa, e, com algum dinheiro, entrar era ainda mais fácil.
Deixei algumas pessoas irritadas para trás e entrei, sendo guiado até a pista de dança pelo piscar de uma luz estroboscópica. Daqui pra frente não haviam segredos. Normalmente as pessoas nestes lugares estão um tanto bêbadas -ou até pior-, mas vai servir.
Alguém me oferece algum tipo de droga, e eu recuso, como sempre. Não adiante usá-las para esquecer o vazio. Eu já testei. É pior.
Novamente analiso o ambiente, buscando por alguém que fosse, no mínimo, interessante. Ali não haveria nenhum tipo de conversa; beleza conta mais nestes locais. Alguns rostos e corpos me agradaram. Fui à caça.
Aparência não era um problema para mim. Eu não estava dentro dos padrões de beleza atuais, mas era agradável aos olhos femininos.
Me dirigi a uma garota ruiva que dançava junto com algumas amigas. Não lembro exatamente o que disse, nem a abordagem que usei. Já fiz isso tantas vezes que se tornou banal, a ponto de nem me importar mais com isso.
O que quer que tenha sido dito, a convenceu. Ela respondeu as minhas palavras me puxando para perto, para que pudesse beijá-la.
O beijo foi completamente sem emoção. O gosto de álcool impregnava sua boca, fato que me irritou um pouco.
Enquanto nos beijavamos, ela me levava para longe das pessoas, em algum canto escuro, quase isolado.
Ela se agarrava em mim buscando prazer momentâneo, e eu queria aplacar essa sensação de vazio. Uma troca justa.
Aquele jogo estava me cansando. Ela já encontrou o que queria. Agora era minha vez.
Desci beijando seu rosto, indo até o pescoço. Ela usava um perfume doce, com um cheiro muito forte, que quase conseguiu me nausear. Quase.
Minha boca salivou, minhas pupilas dilataram. Mordi aquela garota. Cravei meus dentes fundo o suficiente para arrancar um naco de carne e o sangue jorrar farto. Ela esboçou um grito, mas foi abafado pelo som alto.
A sensação de vazio ia se esvaindo suavemente, enquanto eu me deleitava com a vida que insistia em vazar daquela jovem. Estava manchado por álcool e algum tipo de droga, mas ainda assim era bom. Me preenchia. E fazia com que eu me sentisse bem. Muito bem, aliás.
Passado o êxtase do sangue, os fatos voltaram a minha mente. Havia um corpo semi-morto convulsionando em meus braços, e uma poça vermelha começava a se formar.
Se a levassem para um hospital em pouco tempo, ela poderia sobreviver. Não bebi muito do sangue dela, pois não precisava de muito. Mas, se ela vivesse, teria que viver sob as mesmas condições que eu. E ninguém queria mais um como eu. Principalmente eu.
Ainda me surpreendo com a facilidade em que um pescoço se quebra.
Vou embora, deixando para trás aquele corpo sem vida, enquando ainda me sentia completo, aguardando outra noite, até que minha compulsão tomasse minha vontade de novo.