DiÁRiO DA MORTE 2
Tantas vezes isso já me ocorreu...
Os inocentes me chamam
E ficam com medo na hora em que eu apareço
Para ceifar as suas jovens almas!
Certa vez ouvi um chamado
Baixinho, suave, quase um gemidinho
Era fraco
Mas era um chamado
Deparei-me com a seguinte cena:
A casa, o cômodo em que acontecera
Em si, já era de aterrorizar!
Havia uma mulher. Não havia sido ela que me chamara
Havia encolhido num canto do chão imundo, um bebe
A criança estava inconsciente
Fora espancada pelo marido da mulher que estava lá perto dela
Foi queimada em algumas partes com água quente na hora do banho porque chorava
E bateram a sua cabecinha no chão com muita violência
O chamado vinha dele
Ainda estava em parte no mundo dos vivos
(pude perceber que lutava para permanecer vivo!)
Mas a sua inocente vidinha logo logo se esvairia por completo
Aquela criança precisava se reconfortar nos meus braços
Eu daria a ela o conforto que ela não teve em vida
Na sua curta e tão cruel existência
Esperei pacientemente, até que eu a vi engatinhando devagar
Passou alguns segundos olhando para seu corpinho muito machucado no chão
Era só um bebezinho nos seus dez meses de idade
Estava assustado
Muito assustado
Trazia lembranças frescas e nada agradáveis
Ao se virar, olhou para a mulher que chorava
E em seguida pousou seus olhos em mim
Eu poderia esperar o quanto fosse até que ele engatinhando viesse ao meu encontro
Mas achei melhor ir ao encontro dele
Gentilmente fui me aproximando
Sussurrei baixinho para tranqüilizá-lo
Já havia sofrido o bastante e eu não queria que fizesse a passagem assustado
Abaixei-me. Estendi a mão e toquei sua cabecinha
O bebe se encolheu num reflexo
Ele tinha medo de mim
Esperei muitas horas...
Limparam o local do crime
Retiraram os poucos moveis a mulher, retiraram o corpo da criança
Agora, o casebre estava em chamas ateadas pela vizinhança
Iniciava a desabar
Eu estava lá, esperando que aquela pequena alma me seguisse
Ele engatinhou por toda a área em busca de relatos da sua vida mortal, provavelmente
Até, que por medo das chamas, o bebezinho engatinhou em minha direção
Para ele eu não estendi a minha mão fria
Eu abri meus braços e tentei dar o que fosse o mais próximo de um abraço
Ele aceitou
Eu o envolvi nos meus braços finalmente
E retirei aquela alma inocente
De todo o terror que passou em vida.