TAAL

"...Há muito passeio por entre vos!"

Desde que vi este mundo corrompido , e nele imergi, tenho imaginado o porquê desta missão: Seria, por acaso, uma forma de mostrar como somos superiores e inatingíveis como milicianos celestes? Seria uma forma de mostrar-nos o absurdo no qual se desenrola o equivoco do livre arbítrio? Seria uma forma mais rápida de nos contaminarmos com o engano do qual o tolo Lúcifer foi vítima ? Seria para garimparmos um fio de dignidade neste sepulcro aberto o qual estes vermes chamam de cidade? Realmente não sei. Imagino, também, o que fariam se soubessem de nossa presença, como suas mentes limitadas e medíocres seriam incineradas ao entrar em contato com uma dimensão tão mais clara e ampla como esta a qual pertencemos . Como seria devastadora a imagem do universo e suas fronteiras, do infinito e sus segredos, da apequenada existência deste sopro arrogante e mentiroso que se resume a vida de todos os humanos, se acaso pudessem assisti-la como nós a assistimos.

Murmuro para o nada, sem esperar respostas:

“-Eu os vejo, os percebo, eu os toco. Em casas humildes ou palafitas indignas e fétidas onde o horror da fome e a credulidade cega se misturam ao cinza rancoroso de paredes manchadas pelo brio ferido devido à falta de recursos , em mansões suntuosas e abastadas onde o hedonismo fútil é a maior de todas as virtudes, em igrejas repletas de psicopatas perturbados e de asseclas de um evangelho mal interpretado , infecto de desonra, ódio, mentiras alto-indulgentes, bondades escarninhas e sodomias ,de lixo mundano e sacrílego ,alheios à vontade Dele – o amor -, eu os acompanho em lupanares abarrotados de almas esmaecidas pelas dolorosas e quase incuráveis feridas do amor rejeitado, onde homens e mulheres comungantes do mesmo flagelo se completam em uma dança profana e decadente de cumplicidade , carnalidade e sentidos imersos no horror de desilusões sentimentais; os assisto em vielas onde a carne apodrece devido ao vicio em busca do prazer duradouro, da concupiscência do corpo ; me deleito em gargalhadas vendo a arrogância e indiferença daqueles que se intitulam filhos do Soberano, santos e irrepreensíveis, piedosos e merecedores do Éden; eu os escuto em seus quartos de matizes obscuras onde a lugubricesca melodia da lamina fria em contato como pulso hesitante provoca o choro copioso e desesperado de olhos marejados e melancólicos, amparados pelo silencio misterioso daquela a quem chamamos por irmã –pois criada, a morte, fora como tu e eu-; os esquadrinho em ônibus, nas mais densas noites ,onde a musica de aparelhos engenhosos os fazem projetar a alma até o infinito “- Como sois admiráveis !" – em carros ou à espera de condução, em escolas ou mesas de adegas...Todos vocês , todos vocês... Seja em uma prece, em um insulto, seja no furor da rude peleja , seja naquele momento infinito em que seus lábios se unem e que , de forma estupenda, percebo que vos assemelhais à serafins ao tocardes a imensidão do universo nesta misteriosa atitude –“ Oh Pai ,(murmuro eu mais uma vez.) o que destes à estes infames e a nós ,caprichosamente, negastes ? Nós, seus verdadeiros filhos... Qual seria a alcunha desta misteriosa delicia?“. Seja no jorro de sangue do corpo sulcado pela lâmina do agressor, seja no encontro das almas na fração de segundos de um instante-flerte, seja onde for , seja como for , eu os vejo.”

Reverendo lycan
Enviado por Reverendo lycan em 30/10/2010
Reeditado em 01/11/2010
Código do texto: T2587967