Desabafo de neurônios
Queria que todos os dias fossem normais, a calma, a tranqüilidade estão escassas já faz muito tempo. A alegria de viver parece que passou, estou me afogando cada vez mais num mar de gelo frio e escuro. Posso sentir a imobilidade de meus membros e a lentidão de meus pensamentos.
Estou num paraíso sem árvores, sem folhas, sem terras, sem água e sem solo. Não há animais, nem pássaros cantando, tudo é vazio como uma lata de leite condensado usada. As cores não estão vivas e eu vejo a melancolia do monocromático.
Sou uma formiga no fundo do baú que está dentro do fundo do baú, trancado num cofre dentro do outro. As chances de sair disso é mil vezes uma dúzia de zeros enfileirados em ordem alfabética.
As vezes penso no futuro quando estou no presente, mas no futuro não há lembranças do passado, porque tudo se transformou em memórias de estátuas sem vida e alma. As coisas caem, caem, caem e quando chegam ao chão, onde não podem mais cair, elas começam a se deteriorar. Até que o pó resultante se camufle no chão e vento.
O tudo é o nada e o nada é o tudo. Só tenho nada porque este é o meu tudo.
Meus frutos na vida, se é que podem ser chamados de frutos, brotaram em solo podre, por isso estão feios e ruins. Tenho vergonha deles, de cada um deles. Mas não sei se poderia fazer melhor, porque meu regador quebrou, minhas sementes estragaram e meu adubo era de má qualidade. Meu solo era seco e sem vida.
Em uma grande folha de papel eu desenhava. Sim, esboçava e detalhava o mundo perfeito do jeito que eu queria. Muitas águas cristalinas e o verde puro e natural, muita iluminação e sol para todos que brincavam no lago. A caneta parou de pegar e então sacudi. A tinta foi para todos os lados e meu desenho foi atingido. Sim, até em nossos sonhos os erros aparecem. A tinta se espalhou ainda mais quando rios de lágrimas caiam em meu desenho. As cores se misturaram e se mesclaram até virar uma mancha negra tampando o meu sol.
Amassei o papel e o atirei no lixo: Eu sou um fracasso.