Uma noite com o ladrão Tempo
Era tarde da noite, e eu estava com sono, mas não conseguia dormir, o frio era realmente congelante, e meus olhos não conseguiam fechar. Eu não me sentia a sós no quarto, não era apenas a minha respiração, em um ritmo calmo e lento, outro ser estava ali, e eu não podia ficar na dúvida. Meu coração batia acelerado, minha testa suava (mesmo no frio) continuadamente, meus pés tremiam. Tentei uma, duas vezes, mas não conseguia tirar a coberta, o medo de descobrir o que me olhava ali, era maior que o medo do que estava ali. Talvez se eu fechasse os olhos e tentasse esquecer... Não, eu não conseguiria, mesmo que ouvisse música, o som de sua respiração parecia ser mais alta. E então eu decidi, tirei a coberta da cabeça e realmente ele estava lá: sentado na cadeira, com uma roupa preta, uma garrafa de vinho tinto, com duas taças na metade, o rosto era branco, enrugado, tinha olhos negros e uma cartola na cabeça. Parecia me convidar a beber junto dele. Eu pensei em gritar, mas ele não me fazia mal algum, então sentei, olhei no seu rosto, era amigável, e tinha um sorriso na boca, como se aprovasse a minha decisão. Eu peguei a taça, e num movimento rápido e habilidoso, ele retirou a cartola, e a colocou no canto, deixando à mostra os seus cabelos brancos. Eu tomei o primeiro gole, era muito bom o vinho. Francês, de 82. Agora eu não sentia mais medo, ele já poderia ter me matado se quisesse, mas ele não queria. Tomei uma, duas taças, e ele acendeu um charuto, e fumava olhando pro teto, como um legítimo senhor, de uns cinquenta anos. Conversávamos sobre assuntos diversos, e rimos também. Eu percebia em seus olhos, que sua juventude voltava, e seu cabelo agora, era de um preto brilhante, a cada taça que eu bebia. Eu achava até que tinha bebido demais, só que ele estava mesmo mais novo. Então de repente ele levantou, pegou seu chapéu, e tomou a taça. Nesse movimento, percebi que minhas mãos estavam cheias de rugas, minha vista estava cansada, e minha respiração era lenta. Então ele pegou a taça de vinho, e com meu sangue, completou a garrafa, me fazendo entender tudo. A cada taça de sangue dele que eu tomava, a cada hora que passava, a minha juventude passava aos seus olhos, e eu teria que fazer o mesmo, se quisesse viver por mais tempo. Ele foi embora.