Mortífera

Ricardo era um sujeito bacana, apesar de ser um baladeiro de plantão! Sempre saía à noite! Tinha muitos amigos que o estimavam muito e vivia cheio de garotas atrás dele, pois era boa pinta e tinha um papo bem interessante que atraía as mulheres! Ele morava sozinho, seus pais e seus irmãos moravam no interior de São Paulo, Ricardo veio sozinho para Santo André, no ABC Paulista a fim de trabalhar e garantir um futuro melhor não só pra si, mas também para seus irmãos mais novos.

Certo dia, ele recebeu uma correspondência cuja remetente tinha o nome de Mortífera! Abriu e pensou:

- Isto só pode ser brincadeira de algum dos meus amigos! Vamos ver o que está escrito nesta carta!

Ao abrir, pode sentir um arzinho frio sair de dentro da correspondência e ele se arrepiou todo! A carta era bem estranha, o envelope era todo marrom escuro, o papel dentro dela era todo preto e as letras brancas!

Na carta estava escrito o seguinte:

“Senhor Ricardo, venho através desta comunicar que seus dias estão contados! Infelizmente é assim pra todos, um dia chega a hora! Quero comunicar-lhe que daqui a um mês o senhor partirá desta para melhor, mas para melhor mesmo, visto que o senhor tem feito muito bem aos seus amigos, seus familiares e pessoas ao seu redor, apesar de ser um baladeiro de plantão.

Irei buscá-lo onde o senhor estiver! Não há como escapar, pois este é o seu destino e não há como mudá-lo, queira, por favor, aceitá-lo! Tenho observado o senhor durante estes dias, apesar de não poder me ver. Aquele arrepio que sempre sente significa que eu estou por perto. Ao receber a correspondência o senhor deve ter sentido um arrepio do mesmo jeito, isto significa que a carta é parte de mim também! Não irá fugir, sei como és e quem és, e pode ser que por acaso eu o encontre mesmo se conseguires fugir de mim, pois o destino quer assim.

Sem mais, agradeço a sua compreensão e nos veremos daqui a exatamente um mês,

Senhorita Mortífera”

Ricardo ficou apavorado ao terminar de ler! Rasgou a carta e jogou na lareira, mas quando voltou pra cozinha, a mesma estava lá em cima da sua mesa inteirinha! Ele sentiu aquele arrepio de novo!

- O que eu faço meu Deus? Estou perdido! Só não vou comunicar à minha família, não quero que fiquem nervosos por minha causa!

Ele jogou a carta na privada e deu descarga, quando foi ao quarto dormir, ela estava em cima da sua cama! Por fim, aceitou que não tinha como se livrar daquela carta assim como não tinha a possibilidade de se livrar da morte.

Ele passou a ficar mais em casa, seus amigos Paulo e Francisco estranharam porque o companheiro estava tão afastado da galera. Uma paquera que ele tinha cujo nome era Lina também estranhou o fato de Ricardo ter se tornado tão caseiro. Ele estava isolado. Começou a procurar ajudas espirituais em igrejas e também foi ao psiquiatra para tentar fazer tratamento, pois achava que estava ficando louco! O doutor Plínio disse que não era nada disso! Ricardo se sentiu mais aliviado e começou a achar que aquilo tudo tinha sido um pesadelo que tivera.

Outro dia ele recebeu mais uma carta, quando leu o nome da remetente, sentiu um arrepio novamente, se tratava novamente dela, Mortífera, abriu e viu apenas um bilhetinho dentro do envelope que dizia a quantidade de dias que faltava para sua chegada.

Ricardo desmaiou, o terror tomou conta dele, fazendo que ao desmaiar batesse a cabeça na cadeira e se machucasse!

- Como posso morrer, sendo que sou tão saudável? Tenho que garantir o futuro principalmente dos meus irmãozinhos Wesley e Marcos que estão no interior, juntamente com meus pais Maíra e Roberto!

E os dias foram passando, finalmente chegou o dia e Ricardo teve uma idéia para despistar Mortífera da sua cola!

Resolveu ir para a balada, mas antes disso, ele que era um homem cabeludo e barbudo resolveu mudar o visual: raspou toda a cabeça, a barba e foi para o meio da multidão num show de rock!

Ele pensou consigo mesmo:

- Assim enganarei Mortífera, mudei meu visual, ela disse que sabe como eu sou e quem eu sou, deste jeito não saberá! Duvido que me ache por acaso.

E o show estava bem animado, Ricardo estava curtindo principalmente as musicas dos anos 80, época em que ele era garoto.

Foi então que sentiu um arrepio e pensou que ela deveria estar por perto!

O rapaz foi bem para o meio da multidão, colocou uns óculos escuros!

Uma linda mulher subiu no palco para cantar uma musica de Hard Rock, o animador da festa disse que se tratava de Mortífera, a multidão delirou e Ricardo começou a tremer. A mulher era pálida, tinha um cabelo liso, preto, uma franja, vestido todo preto, botas e começou a cantar uma música cujo refrão dizia:

“Não adianta tentar fugir,

Eu estou aqui para te levar,

Agora mesmo estou aqui,

Não adianta tentar escapar!”

Após terminar o show, Mortífera desceu do palco e muitos homens ficaram elogiando-a e perguntando se podiam dar um beijinho. A mulher respondeu:

- Não posso beijar ninguém agora, porque o meu beijo é mortal! Somente uma pessoa eu beijarei esta noite, que não é nenhum de vocês!

Todos gritaram e disseram:

- Quem será o sortudo?

Mortífera saiu procurando Ricardo por todos os lados, aquele homem cabeludo e barbudo que ela sempre estava acostumada a ver durante suas visitas anteriores onde não se manifestava para que pudesse conhecer aquele que seria levado por ela do estado físico para o espiritual. Procurou, procurou, mas não o encontrou.

Foi então que viu um sujeito careca, sem barba e usando óculos escuros, que estava saindo da casa de show.

Ela pensou:

- Não encontro o cabeludo e barbudo, mas alguma coisa me diz para levar aquele carequinha ali mesmo!

Ela o agarrou lá fora e lhe deu um beijo demorado na boca, por um momento Ricardo sentiu um prazer, mas depois foi sentindo o coração parar de bater e ele caiu morto! Ninguém viu o que aconteceu! Mortífera então desapareceu do nada! Quando o pessoal saiu, viram Ricardo caído no chão. Chamaram o serviço de emergência, mas não adiantou! O rapaz já estava mesmo morto!

E Mortífera cumpriu sua promessa, disse que não haveria como escapar porque o destino queria daquele jeito.

Chegando ao céu, um anjo chamado Abel mostrou a Ricardo que sua família não ficaria desamparada, o seguro que ele tinha feito em nome de seus irmãos mais novos, caso faltasse, foi mesmo pago pela multinacional onde ele trabalhava como engenheiro. O futuro dos garotos já estava garantido.

Enquanto isso, Mortífera estava na Terra, à espreita! Esperando mais uma oportunidade de buscar alguém! Havia muitos outros anjos da morte encarregados de fazer os serviços, pois ela não era a única e muito trabalho tinha para ser feito neste mundo repleto de tristeza e crueldade!

(Conto publicado na antologia de contos fantásticos "Fantasiando", Editora Regência)

Cadu Lima Santos
Enviado por Cadu Lima Santos em 01/05/2010
Reeditado em 23/01/2016
Código do texto: T2231300
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