Meu Noel

Meu Noel

Jocenir Barbat Mutti

Dez/07

Quem me conhece melhor, sabe que costumo chegar antes dos horários marcados. Num desses dias de dezembro fui ao shopping cortar o cabelo. Lá estava eu, quinze minutos antes. Decidi olhar vitrines, mesmo não sendo a minha praia (este é um prazer da maioria das mulheres...) Fiquei na frente de uma vitrine com cara de quem procurava algo, mas não via nada.

De repente enxerguei um Papai Noel no centro do shopping. Era um velhinho que ganharia meu voto, se ele participasse de um concurso para escolha do melhor Papai Noel. Todos os meus sentidos ficaram aguçados. Então passei a observar um menino de aproximadamente quatro anos falando com o bom velhinho; próximo dali, uma mulher de braços cruzados se deleitava com o que via. Era a mãe, pensei!

Para não despertar a atenção, fiquei atrás daquela mulher feliz. Meu interesse aumentou, olhei para os lados para saber se eu não estava chamando a atenção dos outros, cheguei a pensar o que exatamente estava fazendo ali. Mas continuei.

Cheguei mais perto para ver melhor o semblante do menino. O garotinho estava com o pé esquerdo num degrau, tentando colocar a sua cabecinha, de cabelos curtos e escuros, a uns trinta centímetros da cabeça do Noel. Falava e gesticulava, simulando o formato do presente que pedia. Parecia desembaraçado e tagarela, como se estivesse na reunião mais importante da sua vida de criança.

Senti que o Papai Noel comprava o sonho do menino, pois o ouvia compenetrado; balançava vagarosamente a cabeça para cima e para baixo, como que concordando com o pedido. Olhava por cima dos óculos, virando um pouco a cabeça para ouvir melhor. Então se despediu, pondo a sua mão enluvada sobre a mão da criança.

A partir daquele momento mágico, eu assumi a posição do menino. Transportei-me ao passado e lembrei a minha relação com o Noel. Só que comigo era diferente, eu nunca conseguia falar diretamente com o Papai Noel, era tudo por meio da imaginação. A mãe me dizia que o velhinho viria do céu, trazendo os presentes que eu encomendava por carta. Claro que eu não sabia escrever, mas ditava a carta para alguém que a escrevia por mim, e era uma lista comprida de pedidos, brinquedos e até uma roupa nova, que eu incluía na lista porque sabia que iria ganhar... De véspera, a carta ia para a sacada da minha casa, junto com meus sapatos e ia dormir bem comportado, confiante que o Papai Noel viria. Ao acordar, no dia vinte e cinco, lá estava um revólver de espoleta, uma bola de couro laranja número três, um carrinho que andava para frente ao ser puxado para trás...

Que saudades do meu Noel!!