Um Natal Especial

A cidade estava se preparando para o Natal e as vitrines, sempre gulosamente feitas para fazerem a gente comprar, exibiam coisas lindas em meio a enfeites natalinos, de fazer inveja aos outros lojistas. Cada lojista se encarregava de fazer seu estabelecimento brilhar mais do que os outros e assim a cidade ficava realmente linda.

Eu sai da Revista onde trabalhava até hoje, e caminhei como sempre apressada, para não perder a condução. A cidade já brilhava com a noite que se aproximava. Tudo estava tão radiante, mas eu mesma não estava com espírito Natalino aflorado, de modo que achava desnesseçário todas aquelas luzes propositalmente colocadas por todos os lugares. Meu mal humor estava na cara. Tudo parecia que estava dando errado. Cheguei a afirmar:

_ Papai Noel resolveu me sacanear e está me dando castigo em vez de presentes!

Por causa do maldito vício do cigarro, que não consigo largar, perdi meu namorado. Ele bem que tentou mas deve ser mesmo muito difícil beijar alguém com gosto de cinzeiro na boca. Brigávamos muito e na última briga de ontem, ficou claro que não dá mais. Chorei até dormir e acordei hoje com uma cara horrível.

Na empresa onde trabalho fiquei sabendo que as coisas não vão nada bem. Meu patrão nos falou que estava dando férias antecipadas a todos nós para não fechar a empresa de vez e que era pra gente procurar outro emprego porque ele não garante que a gente ainda vai trabalhar com ele. Ele estava arrasado.

Moro sozinha em uma pensão desde que perdi meu apartamento por falta do aluguel que deixei atrazar devido a um pequeno problema de saúde. Tenho sentido muitas dores de cabeça e por isso gasto muito com farmácia. A dona da pensão era amiga da minha mãe e por isso não me cobra nada. Eu a ajudo nos serviços da pensão mas ela nunca me pediu isso. Ela tem a idade que minha mãe teria, ou seja uns sessenta anos, e eu não acho justo deixá-la fazer tarefas pesadas.

Chegava do trabalho tarde e fazia tudo o que podia para a casa ficar em ordem para o dia seguinte além de adiantar algumas coisas para a hora do almoço dos hóspedes. Antes de sair pra trabalhar sempre deixei o café da manhã preparado.

Acho que ando rezando pouco e que Deus me abandonou. Amanheceu um dia lindo e eu não tenho ânimo para mais nada. Meu trabalho na revista era meu sonho de consumo. Não ganhava muito mas amava aquele trabalho. Desde que me formei na faculdade de Jornalismo.

A dona da pensão se chama D. Regina. Ela me disse que tínhamos que preparar a festa de Natal da pensão. Arranjei tudo com o dinheiro que ela me deu. Comprei ingredientes saborosos para a ceia e objetos bonitos para enfeitar a pensão. Quando ela chegou da feira, ficou tão encantada que exclamou:

_Deus te abençoe Marina!! Que linda está esta casa! Assim Papai Noel virá e trará uma surpresa pra você.

Eu não acreditei e de certa forma isto bateu em mim como uma agulhada. To com raiva de Papai Noel. Se é que ele existe! Fui dormir pra esquecer minha vida e meus problemas. Acordei com uma dor violenta. Vomitei muito e fiquei enjoada. D. Regina chamou uma ambulância e me levou pro hospital da caridade no centro da cidade de "Iguarias". Lá os médicos me examinaram e ficou constatado que talvez eu tenha um tumor no cérebro. Fiz o exame pra confirmar e o resultado deve chegar antes do Natal.

O pior já tinha passado e voltei pra casa. D. Regina me encheu de mimos e cuidados. Ela realmente gosta muito de mim e eu dela. É a mãe que Deus me deu no lugar da minha que Ele levou. A festa de Natal seria na 5ª feira e tudo já estava preparado pra ocasião. D. Regina contratou uma ajudante pois não queria que eu me esforçasse.

Fizemos uma festa antecipada de Natal, na segunda feira, pra comemorar o Natal com um grupo de turistas que iriam partir de volta pra sua terra e lá não tinha Natal. Então conheci um homem muito especial. Jardel era editor de uma revista de moda em Paris e estava aqui a procura de alguém que pudesse trabalhar com ele e dar notícias da moda brasileira. D. Regina disse-lhe quem eu era e ele se animou todo. Queria me levar pra Paris. Mas até então eu ainda não sabia do resultado do exame. Como eu poderia assinar um contrato sem saber qual o meu problema? Achava que eu era uma bomba relógio e não era justo fazer isso com o Jardel.

Jorge, meu ex namorado, me ligou pra se despedir. Pediu-me desculpas e disse que ainda me amava. Estava indo embora pra Paris, acreditam? Pois é, e eu que nem sabia se ia ou não. Me despedi dele dizendo que tinha parado de fumar por causa dos conselhos médicos e ele ficou muito feliz. Mas não falei pra ele da minha proposta de trabalho e nem do meu problema de saúde. Disse que o amava e que talvez a gente se veria no futuro. Ele me deixou contatos em Paris caso eu mudasse de idéia e fosse encontrá-lo mais tarde.

Antes da festa terminar, o carteiro trouxe a correspondência. D. Regina veio correndo me trazer o resultado do exame. Fiquei muito nervosa e não queria nem abrir o envelope dos exames de sangue e da Tomografia. Ela me animou e disse pra ter fé em Deus. Abrimos juntas e o resultado superou todas as minha expectativas. A tomografia revelou que não tenho problemas cerebrais. Deve ter sido apenas stress a causa das minha dores de cabeça. Quanto ao resultado do meu exame de sangue foi uma surpresa maravilhosa. Estou grávida!!! O Editor da revista ficou muito feliz pela minha gravidez e porque eu topei a proposta dele. Disse que me dará todo o apoio em Paris com meu filho. Cancelou a passagem dele e está providenciando as nossas passagens. Minha, dele e de D. Regina. Afinal não poderia deixá-la aqui. Ela está se sentindo avó e até arranhjou uma amiga pra assumir a pensão. Estou indo pra Paris e vou me encontrar com Jorge. Tenho certeza de que ele ficará radiante com a notícia da paternidade. Este será o melhor Natal que já tive na minha vida. Agora chego a acreditar em Papai Noel. Sei que Deus existe e nunca me abandonou.

Estou tão feliz que se saio pela rua, fico desejando a todos os que passam por mim com um sorrizo enorme no rosto:

_ Feliz Natal !!!

Nilma Rosa Lima
Enviado por Nilma Rosa Lima em 18/12/2014
Reeditado em 19/12/2014
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