Doutor Márcio Paulino - Apóstolo da medicina

Doutor Márcio Paulino é uma das grandes personalidades de Sete Lagoas. Nascido em Teófilo Otoni, MG, em 1905, veio para Sete Lagoas, em 1930, onde fixou residência, casou-se, constituiu família e desenvolveu com singular brilhantismo, a sua carreira de médico-cirurgião.

Médico notável, sobretudo pelo espírito de caridade e dedicação aos mais humildes, foi um dos idealizadores do Hospital Nossa Senhora das Graças, onde atendeu incansavelmente a todos que o procuravam para mitigar as suas dores do corpo e, eventualmente, também do espírito.

Tinha fama de santo, principalmente pelo costume de identificar as doenças de seus pacientes, antes mesmo de tocá-los. Grandes filas se formavam, pela manhã, na porta do hospital. Eram pessoas carentes em busca de uma consulta médica. E, além de atender a todos, pacientemente, ele ainda providenciava medicamentos, disponíveis no próprio hospital ou, às vezes, indicava aos pacientes uma farmácia onde poderiam aviar gratuitamente suas receitas.

São várias as pessoas que afirmam o poder milagroso de doutor Márcio Paulino e não é à toa que o seu túmulo no Cemitério Santa Luzia, em Sete Lagoas, é um dos mais concorridos no Dia de Finados. Em todas as paróquias da cidade são muito frequentes os pedidos de missas, por pessoas que relatam graças alcançadas por intercessão de sua alma.

Alguns episódios marcantes da vida deste ilustre médico são amplamente conhecidos na cidade e região. Segundo contam alguns, ele costumava pescar com os amigos nos arredores da cidade. E mesmo durante esses momentos de lazer, estava de prontidão e atendia com muito solicitude qualquer emergência que surgisse.

Certa vez, quando pescava no famoso Ribeirão do Chaves, local chamado Saco da Vida, ouviu os lamentos de uma mulher vindos de uma casinha humilde, na estrada por onde trafegavam. Percebeu de pronto que a mulher estava muito doente e decidiu entrar para ver o que estava acontecendo.

Com um rápido olhar, percebeu do que se tratava e orientou o marido para que, logo que amanhecesse fosse a uma determinada farmácia da cidade e buscasse o medicamento que receitaria para a paciente.

Para tanto pedir ao homem um pedaço de papel e uma caneta ou lápis para aviar a tal receita. Mas, naquela casa de pessoas completamente analfabetas, papel, caneta e lápis eram itens ausentes e desnecessários.

Sem titubear, o doutor foi até o fogão de lenha, quase apagado àquela hora, pegou um pedaço de carvão e com muita habilidade escreveu a receita na velha e desbotada janela de madeira Fez ao casal as recomendações finais e voltou para sua pescaria.

Pela manhã, lá estava o marido na porta da farmácia, carregando a janela com a receita. Inicialmente farmacêutico pensou tratar-se de uma pilhéria ou brincadeira de mau gosto, mas assim que reconheceu a letra e conferiu a assinatura do médico, ficou sério e foi logo providenciar os medicamentos.

Na rotina do hospital, também não faltam episódios relacionados ao famoso médico. Conta-se que numa noite fria e chuvosa, de plantão muito tumultuado, uma pobre mulher esperava ou melhor, desesperava-se em busca de atendimento para uma hemorragia que a atormentava havia vários dias.

A espera prolongou-se até a madrugada do dia seguinte, quando ,exausta, a mulher adormeceu de cansaço e fraqueza, pela longa espera e pelo sangue que havia perdido por vários dias. Foi então que, no silêncio e solidão da sala de espera, apareceu um médico que a acordou tocando suavemente nos ombros e levou-a para uma sala de procedimento de onde a paciente foi liberada com o dia já amanhecendo.

Refeita dos males que a atormentavam, a paciente tinha nas mãos uma receita que exibia para a atendente da portaria, na tentativa de conseguir o medicamento no ambulatório do hospital.

A moça, inicialmente, não reconheceu no papel a letra de nenhum dos médicos de plantão e, quando conferiu a assinatura achou muito estranho e pensou tratar-se de uma fraude qualquer. Afinal o médico que assinara a receita havia morrido há vários anos. Então, voltou-se para a mulher e perguntou:

- Quem foi que atendeu a senhora?

A mulher, sem entender o propósito da pergunta, disse naturalmente que o médico acordou-a de madrugada, para levá-la a sala de cirurgia,. Mas a atendente não ficou ainda convencida do caso.

A mulher, confusa com aquela dúvida sobre o atendimento, correu os olhos pelas paredes da sala de espera. Deparou com uma foto do doutor Márcio Paulino, que até hoje está lá em local de destaque, e logo reconheceu prontamente o médico que a havia atendido.

- Foi ele! Foi ele! - disse entusiasmada.

A atendente foi logo chamar os médicos e enfermeiras! Alguns chegavam para a troca de plantão e outros para a saída. E, já coberta de lágrimas, tentava explicar o que acabara de ouvir.

- Foi um milagre, gente! Foi um milagre do doutor Márcio Paulino! Esta noite ele veio socorrer esta paciente que estava aguardando atendimento! Foi um milagre ,com certeza!

A mulher também começou a chorar, caiu de joelhos e se pôs a rezar em agradecimento pelo grande milagre que acabara de acontecer em sua vida!

Certamente que este ser de tanta luz e bondade, mereceria por parte da Igreja o reconhecimento de sua santidade. Contudo, certamente o próprio doutor Márcio Paulino não faria questão desta honraria. Para ele já seria suficiente o reconhecimento de tantas pessoas da cidade que em momentos de doença grave ou de grandes dificuldades receberam alguma graça sua, e, até no grande número de crianças que receberam o nome do médico como retribuição por alguma graça recebida.

Doutor Márcio Paulino morreu, relativamente novo, em 13 de janeiro de 1961. Por ocasião de seu falecimento houve uma grande comoção popular na cidade. Num dia triste e chuvoso, todo o comércio parou em homenagem àquele que se mostrou como grande exemplo de caridade e dedicação aos pobres e enfermos.

A propósito de sua morte, o poeta Carlos Philinto Prates escreveu o soneto que transcrevo a seguir:

SONETO A MÁRCIO

"Eu escrevo com lágrimas estas linhas,

a saudade me dita e obedeço!

As dores tuas são iguais às minhas,

de igual fonte de estima e igual apreço!

 

Com ele tu tiveste o que não tinhas:

– Um amigo em cada dor, cada tropeço!

E que há de ser de tuas criancinhas?

De teus humildes pobres? Desconheço

 

… Um vigilante apóstolo do Bem,

ele soube ser bom como ninguém:

– Um Francisco de Assis em seus desvelos!

 

Choremo-lo! Mas tenhamos em lembrança,

que já nos Céus, na Bem-aventurança,

ele ouvirá melhor nossos apelos!

Belo Horizonte, 14-01-1961

 

 

Fernando Antônio Belino
Enviado por Fernando Antônio Belino em 18/06/2022
Código do texto: T7540495
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