MENSAGENS NA PAREDE

Gustavo e Cristina haviam se mudado para uma casa na região central da cidade. Eram dois jovens, casados há um ano, eles ainda não tinham filhos. Juntaram suas economias e deram de entrada na tão sonhada casinha dos sonhos. Não era uma casa nova e nem uma mansão, era pequena e tinha passado por uma bela reforma, ideal para um casal que tinha a vida toda pela frente. Os dois tinham uma rotina tranquila; Gustavo trabalhava fora e voltava para casa no final da tarde, Cristina trabalhava em Home Office.

Certo dia, o casal estava de folga, era domingo e se preparavam para tomar o café da manhã. Enquanto conversavam na mesa, Gustavo reparou algo estranho na parede da cozinha. Alguém tinha escrito à caneta, uma frase com letras miudinhas. Gustavo não lembrava se aquilo já estava lá quando compraram a casa. Intrigado, perguntou à Cristina se tinha sido ela quem havia escrito na parede. Ela respondeu que não, jurando que aquela frase não estava lá um dia antes. O casal ficou achando aquilo muito estranho, mas ambos chegaram à conclusão que possivelmente, a frase já estava lá e por falta de atenção, não haviam reparado.

A frase escrita na parede da cozinha, também não fazia muito sentido. Dizia assim: “Saudade dos meus irmãos”. Tanto Gustavo, quanto Cristina, não tinham irmãos. Ambos eram filhos únicos. Desconfiaram que a frase tivesse sido escrita por algum operário que esteve envolvido na reforma da casa. Com a ajuda de uma esponja e produtos de limpeza, Gustavo apagou a frase. A parede voltou a ficar branquinha.

Uma semana depois, o relógio despertou às seis da manhã, horário que Gustavo costumava se preparar para ir ao trabalho. Tomou um banho, se vestiu, foi até a cozinha, fez o café, e logo saiu. Cristina ficou dormindo, pois costumava levantar um pouco depois. No fim do dia, quando Gustavo voltou para casa, encontrou Cristina nitidamente angustiada. Preocupado, ele perguntou se tinha acontecido alguma coisa e ela respondeu dizendo para que ele fosse até a sala e visse com os próprios olhos.

Ao chegar à sala, Gustavo levou um susto. Não era possível, alguém tinha escrito na parede novamente. Dessa vez, foi escrito com outra caligrafia, as palavras eram grandes. Um dia antes, aquilo não estava lá. Era impossível não se ver algo tão chamativo em uma parede branca. Escrito a lápis, a frase dizia: “Estou bem, não se preocupem comigo”. Gustavo e Cristina começaram a desconfiar que alguém estivesse entrado na casa e resolveram chamar a polícia. O casal não conseguia compreender o que estava acontecendo.

Quando a polícia chegou, Gustavo relatou o que estava acontecendo na casa. Contou que há uma semana tinha aparecido uma frase na parede da cozinha e agora, outra frase na parede da sala. Disse ao policial que nem ele e nem Cristina tinham feito aquilo. O policial fez várias perguntas, como: se tinham crianças na casa, se morava mais alguém ali além do casal, se deram as chaves da casa para alguma pessoa, etc. Todas as perguntas foram respondidas com um convicto “Não”.

O policial disse que como nada tinha sido furtado ou nenhum delito mais grave tinha acontecido, a polícia não poderia fazer muito por eles; a não ser, dar um conselho; trocar todas as fechaduras da casa. Alguém poderia estar entrando usando cópias das chaves. Assim que a polícia foi embora, Gustavo ligou para um chaveiro e marcou de fazer a troca das fechaduras e chaves da casa. No outro dia, o chaveiro esteve lá e realizou o serviço. Com chaves e fechaduras novas, Gustavo e Cristina agora se sentiam mais seguros. Só de pensar que algum estranho estava entrando na casa com cópias das chaves, era apavorante.

Mas quem se daria ao trabalho de entrar escondido em uma casa só para escrever frases inofensivas nas paredes? Essa história era absurdamente estranha. Conversando sobre isso, Gustavo e Cristina deduziram que só podia ser coisa de crianças ou adolescentes querendo pregar uma peça no casal. Mas agora, estavam certos de que os dois não seriam mais incomodados com aquelas “gracinhas”.

No entanto, alguns dias depois, quando Gustavo levantou para ir trabalhar, levou outro grande susto. Havia mais uma mensagem escrita na parede. Só que dessa vez, era no quarto do casal. Gustavo acordou Cristina e apontou para a parede mostrando a frase escrita. Cristina, incrédula e ainda na cama, começou a chorar, se perguntando o que estava acontecendo ali. Quem poderia estar fazendo aquilo? Aquelas frases pareciam estar sendo escritas por pessoas diferentes, já que as caligrafias eram diferentes umas das outras. Na parede do quarto, a frase dizia: “Querida família, estarei sempre cuidando de vocês”.

Gustavo não quis assustar Cristina, mas apesar de não acreditar nessas coisas, chegou a pensar que a casa fosse mal assombrada. Cristina se acalmou, levantou da cama e foi tomar um banho. Afinal, o casal passava bem e ela acreditava que tudo logo seria esclarecido. Gustavo ligou para o escritório, avisando que por conta de um imprevisto não poderia ir trabalhar naquele dia. Decidiu que seria melhor ficar em casa. Foi até a cozinha preparar o café da manhã e ao passar pela sala, percebeu que lá, tinha sido escrita uma nova frase. Na cozinha, começou a olhar para as paredes e percebeu outra frase escrita ali também. Aquela situação estava parecendo um pesadelo.

Gustavo teve uma ideia. Convenceu Cristina de que eles próprios tinham que descobrir o que estava acontecendo naquela casa. Gustavo ligou para um amigo que trabalhava com gravações de vídeos para internet, contou sobre o caso das frases que estavam sendo misteriosamente escritas na parede e pediu ajuda. O amigo sugeriu que eles instalassem pequenas câmeras escondidas com sensores de movimentos e visão noturna, em todos os cômodos da casa. Precisavam instalar uma câmera em cada cômodo da casa, programadas para gravar tudo.

O casal resolveu que não apagaria as mensagens nas paredes, por enquanto. Precisavam entender o que estava acontecendo ali. A única coisa que tinham certeza é que as mensagens eram escritas durante as madrugadas, ou pelo menos, quando Gustavo e Cristina ainda estavam dormindo. O casal precisava saber quem estava entrando na casa, por onde estava entrando, como fazia isso e o motivo por trás daquelas mensagens. Com o auxílio do amigo de Gustavo, as câmeras foram instaladas na casa; agora era só esperar.

Alguns dias se passaram e nada acontecia, até que em certa manhã, Gustavo identificou novas mensagens escritas nas paredes da casa, e resolveu olhar as gravações feitas pelas câmeras instaladas nos cômodos. Ele chamou Cristina, transferiu os cartões de memória das câmeras para o computador e começaram a assistir as gravações daquela madrugada. Foram horas de gravações. Assistir as monótonas filmagens dos cômodos da casa foi cansativo, e frequentemente, Gustavo acelerava a gravação com a intenção de buscar alguma pista sobre as mensagens; até que... Descobriram algo impressionante nas imagens gravadas.

As filmagens mostraram que durante a madrugada, Gustavo começou a se mexer na cama, como se estivesse tendo um pesadelo, ou algo assim. O sono de Gustavo era inquieto e de repente, ele se sentou na cama. Cristina dormia profundamente e não viu Gustavo se levantando. Ele parecia estar em uma espécie de transe, estava estranho, como se estivesse em um estado de sonambulismo. O casal assistia a gravação com os olhos arregalados; sem entender. No vídeo, Gustavo caminhava até a escrivaninha, abria uma gaveta, pegava o que parecia ser um lápis e se dirigia lentamente para a sala.

No escuro, Gustavo entrou na sala. Ele parou diante da parede e de cabeça baixa ergueu o braço, e sem olhar, começou a escrever algo na parede. Foi assustador assistir aquela cena. Durante todo aquele tempo, era Gustavo quem estava escrevendo aquelas mensagens nas paredes da casa. A filmagem mostra que após escrever na parede, Gustavo volta para a cama e retoma o seu sono, de maneira tranquila. As câmeras haviam esclarecido parte do mistério. Restava saber agora o que estava acontecendo com Gustavo. Após assistir o vídeo, o casal se abraçou, e dessa vez, ambos choraram juntos. O que estava acontecendo?

Cristina sugeriu que ambos fizessem uma visita a um amigo da família, um médium que atendia em um centro espírita conhecido da cidade; talvez ele pudesse orientá-los. Gustavo estava confuso, mas concordou em ir, queria saber o que estava acontecendo com ele. Cristina ligou para o médium que prontamente se colocou a disposição do casal. Ficou combinado de Gustavo e Cristina irem até o centro espírita no final da tarde. Gustavo armazenou a gravação do vídeo em seu celular, para mostrar ao médium.

Quando chegaram ao centro espírita, Cristina pegou na mão de Gustavo com carinho, dizendo que tudo acabaria bem. O casal foi conduzido a uma sala de espera e logo em seguida, um gentil senhor vestido de branco os recebeu com um doce sorriso no rosto. Era o médium, que os convidou para acompanha-lo até uma sala e se sentassem a mesa. O local era simples, mas muito aconchegante. A iluminação era suave, na mesa havia uma jarra com água, copos e um vasinho com belíssimas flores compondo a decoração.

O médium perguntou o que o casal buscava entender. Os dois contaram toda a história das frases escritas nas paredes e que tinham descoberto que aquelas mensagens eram escritas por Gustavo. O médium assistiu ao vídeo que Gustavo tinha copiado no celular e quando o vídeo chegou ao fim, ele sorriu. O casal estava ansioso por uma explicação tranquilizadora. O médium olhou com ternura para Gustavo e em seguida para Cristina; e disse que os dois eram pessoas muito especiais. Disse ainda que Gustavo era um homem iluminado, com uma notável mediunidade e precisaria aprender a lidar com ela.

O médium começou a dar uma breve aula e explicou aos dois que mediunidade é basicamente a influência dos espíritos sobre o nosso mundo físico e humano. A mediunidade está relacionada com a comunicação entre esse mundo espiritual e material. No caso do Gustavo, tudo levava a crer que ele tinha um dom; o dom da psicografia. O médium esclareceu ainda que a psicografia é a capacidade que certos médiuns têm de escrever mensagens ditadas por Espíritos. Parecia ser o caso de Gustavo. Porém, seria necessário que Gustavo começasse a frequentar as sessões espíritas no centro, para compreender melhor o tema. O médium disse que indicaria alguns livros para o casal se “ambientar” com esse assunto. E frisou que seria imprescindível muito estudo.

Segundo o médium, o casal não deveria se preocupar; deveria se sentir honrado com tal possibilidade. Sugeriu que fizessem orações por aquelas almas desencarnadas que estavam tentando se manifestar através das mensagens que eram escritas nas paredes da casa. Gustavo precisava entender que ele era um canal que os espíritos tinham para fazer contato com o mundo físico, ou material. Era fundamental que Gustavo conhecesse a doutrina espírita. Dessa maneira, ele poderia ajudar intermediando e tornando possível a comunicação entre dois mundos; esse é o principal papel de um médium.

Após a esclarecedora conversa com o médium, Gustavo e Cristina ficaram mais tranquilos. Passaram a ler sobre espiritismo, mediunidade e psicografia. Gustavo foi aceitando o dom que possuía, passou a frequentar o centro espírita toda semana e se aprofundou na doutrina. O casal se permitiu abrir espaço para a espiritualidade e religião em suas vidas. As frases nas paredes da casa se tornaram coisas do passado, pois com o auxilio do médium, Gustavo conseguiu exercitar e canalizar o seu iluminado dom no centro espírita. O estudo é um caminho libertador. Com o passar do tempo, Gustavo começou a psicografar cartas. Hoje, ele é considerado um dos médiuns mais conhecidos e respeitados no espiritismo.