Antigo Hotel Russinho

Nem é do meu tempo, mas na Praça da Matriz, na cidade de Tatuí, interior de São Paulo, tinha o antigo Hotel Russinho. Um prédio antigo, com assoalhos e forros de madeira, com dois andares. A parte debaixo ficou de herança para um tio de meu ex-marido e a parte de cima para ele, que herdou com a morte da mãe. Sua mãe teve um AVC e depois de três meses morreu. Eu ajudei a cuidar dela no hospital e como ele só tinha dezessete anos, o juiz deu sua emancipação e fomos morar juntos. Eu tinha 19 anos e trabalhava em um escritório de contabilidade. A parte de cima do hotel que coube ao ex-marido era composta de oito quartos, uma sala e um banheiro no fim do corredor. Adaptamos uma cozinha e uma lavandeira no andar de cima e reformamos o banheiro. O forro de toda a casa estava com cupim e aos poucos fomos trocando por novos forros de madeira. A nossa casa era muito grande e fomos mobiliando devagar, pois tínhamos os móveis que ficaram de sua mãe.

Eu arrumei um gato branco e preto e o chamávamos de Choquito. Lembro-me muito bem da época, pois passava na tv a novela Roque Santeiro. A noite ficávamos na sala assistindo a novela e vez ou outra o gato ficava andando pela casa.

Eu sempre levanto a noite para ir ao banheiro e de costume, nunca acendo as luzes e ia pelo escuro andando pela casa. Uma noite levantei no escuro e quando passei em frente ao guarda roupas, senti que tinha uma pessoa ali com respiração ofegante na minha frente. Senti muito medo e fui correndo ao banheiro. Voltei e tudo estava normal.

Outro dia a noite, entrei no quarto escuro e fui pegar um casaco, pois estava com frio e novamente senti aquela respiração ofegante ali na minha frente, mas não via nada. Peguei o casaco e sai correndo e fui ao encontro do marido. Tivemos uma ideia, pegamos o gato e o empurramos para dentro do quarto. O gato saiu correndo todo arrepiado e assustado.

Ficamos com medo e um pouco encabulados com estes acontecimentos, mas tudo seguia normalmente.

A casa era enorme, nossos parentes vinham, dormiam, era uma festa receber o pessoal na casa da praça. Eu gostava de limpar e deixar o piso de assoalho brilhante, já que havíamos passado cascolac recentemente. Adorávamos reformar a casa.

Meu ex-marido passou no concurso da prefeitura e foi trabalhar nesta época, na área da contabilidade. E em dezembro estava acontecendo a correição no setor que ele trabalhava. Teve uma tarde que ele me ligou e avisou que ia trabalhar até bem tarde por conta da fiscalização. Eu cheguei do trabalho cansada, tomei banho, fiz o jantar e na hora da novela corri para a sala ver a novela, o gato e eu.

Deitei no sofá com um cobertor pois estava frio. A sala era o primeiro cômodo da casa no andar de cima, um hall de entrada, pois tinha a porta na rua, adentrando tinha um pequeno hall e a escada de madeira que dava acesso ao segundo andar. A escada era linda, com tábuas largas e corrimões de madeira trabalhada subia fazendo um ele.

Nesta noite, eu toda entretida com novela e com medo, pois tinha a cena do lobisomem que aparecia e de repente ouvi passos que subiam a escada de madeira e a cada passo, a madeira rangia. Meu gato saiu correndo e sumiu, eu corri para a escada e olhei e não vi nada. Voltei ao sofá e comecei a prestar atenção na na novela novamente. E tudo começou! O barulho da madeira rangendo e os passos subindo. Me deu um medo aterrorizante, mas decidi que hoje eu vou ver quem é que me assusta!

Levantei do sofá decidida e com os dois braços um em cada lado da escada a fechei e fui logo falando: - Quem é que está ai? E ouvi os passos subindo a escada e o peso rangendo a madeira. Falei de novo: - Daqui você não passa! Chega de me assustar! Não sei quem você é, ou aparece e diz o que quer ou vai embora e nunca mais apareça! Comecei a falar o que eu sabia do prédio. Aqui é um antigo hotel, Hotel Russinho, dizem que o dono vendeu e depois se arrependeu. A venda foi feita ao avô do meu marido. Ele herdou isso, não temos nada ver com a venda feita antigamente. Nos deixe em paz!

Fiquei toda arrepiada dos pés à cabeça, e continuou o barulho dos passos e do ranger da escada até parar diante mim, eu não via ninguém, mas sentia a respiração ofegante e brava de que havia alguém na minha frente! Parecia furioso com o que eu disse, mas eu falava sem parar repetidamente que não tinha nada a ver com o negócio da venda do hotel. Até que por fim, um passo regrediu a escada e desceu e eu fui degrau por degrau falando e expulsando que espírito fosse que ali estivesse. Ia a contragosto, baforando e grunhindo como que contestando a minha decisão, mas eu não tive mais medo, queria era resolver aquele mistério e por um fim no medo que nos cercava de morar ali. E como num passe de mágica, a porta de entrada da rua abriu-se sozinha, eu pude ver a praça, a rua o Hotel Del Fiol na rua principal do outro lado da praça. E num redemoinho de vento a porta fechou-se. Era uma porta larga de madeira, pintada de branco, com duas folhas e para segurança, na parte de dentro tinha uma tranca de metal. Tudo fechou-se. E eu senti uma calma, um alívio. Eu assisti isso tudo ali parada no último degrau da escada. Fiquei ali parada, mas senti um enorme alívio e subi as escadas tranquilamente e voltei a ver novela. O gato Choquito veio e deitou comigo. Não ouvi mais barulho e nem senti medo naquela noite.

Meu marido chegou e contei tudo a ele. Ele riu e me disse que eu deveria ter ficado com medo por causa da novela e que imaginei tudo isso. Eu ouvi e senti sim a presença de algo. Tudo o que aconteceu foi real! E eu nunca mas senti nada estranho ou medo. Até dormi sozinha e nada mais aconteceu.

Sissili
Enviado por Sissili em 05/04/2021
Código do texto: T7224744
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