O objeto misterioso e as Lamparinas
Estava em casa com sua filha. Era o início de mais uma calma noite naquele lugar ermo, a menina conectava os fones e ia ouvir seus podcasts enquanto a mãe preparava os afazeres rotineiros do cair da noite.
Terminando de lavar as poucas louças na pia, já que moravam apenas as duas, para em seguida ir praticar o novo hobby que a quarentena havia lhe proporcionado, a fabricação artesanal de lamparinas feitas com buchas à base de óleo.
A filha levantou do quarto, mas sem tirar os fones, e foi até a cozinha pegar um biscoito e voltar rapidamente para o seu aposento favorito. Na volta interpelou a mãe:
- Mais uma lamparina? Cuidado não incendiar a casa!
A mãe apenas devolveu a indagação com um riso amarelo.
Já perto da meia noite, a filha no quarto cochilando, os fones ainda nos ouvidos e o pacote de biscoito vazio no chão; a mãe se preparava para guardar os materiais de sua produção artesanal e fechar a única janela aberta, que arejava a casa.
De repente, um forte estouro e o cachorro que protegia a casa não dá nem mesmo um único latido, como seria de costume. Logo pensou ela:
- Mataram o cão, meu Deus!
Grita à filha assustada que a ouve só depois de mais alguns chamados, já que o podcast continuava bloqueando os sons do mundo exterior.
- Que foi, mãe?!
- Não ouviu esse estouro? Ahh! Deveria estar dormindo de fone. Ouvi um barulho muito alto e o cachorro não deu nem um sussurro.
- Ué! Vamos olhar pela janela.
- Mas e se tiver alguém lá fora. Parecia um tiro.
- Que isso, mãe! Não é nada, isso é efeito da pandemia. Isso e essas lamparinas.
Brutus, Brutus, Brutus... depois de muito chamarem, o animal deu sinal de vida, para o alívio das duas.
- Viu só?! Te disse que não era nada.
A mãe esbravejou.
- Sei o que ouvi, menina! Vou abrir a janela.
- Tá tudo bem, ele tá aqui.
- Mas... filha! O que é aquilo ali brilhando?
- Onde, mãe?!
- Em cima daquela árvore maior.
- Nossa! Tô vendo.
- É um OVNI?
- Não, mãe! Parece um drone.
- Jesus! O que um drone faz sobrevoando nossa casa a uma hora dessas? A casa do seu tio tá apagada e ele falou que chegaria somente lá pela manhã.
- E o barulho?! Será que foi esse drone?
- Fecha a janela, mãe. Essas coisas têm câmera, alguém pode estar nos vigiando.
Silêncio e tensão dentro da casa...
Minutos depois e mais um estouro, e dessa vez o cachorro latiu ferozmente. As duas entram em pânico e sem saber o que fazer:
- Filha, vamos pegar as lamparinas! Elas podem ser úteis agora. Viu?!
- Úteis pra quê?
- Vai que tenha alguém pretendendo nos deixar no escuro com más intenções.
- Não fala isso, mãe! Estou tremendo... aprenda a fazer uma espingarda da próxima vez ao invés de lamparinas!
Resolveram olhar pela fresta da janela. O cachorro estava lá impassível olhando para o objeto identificado. O problema era saber quem o comandava.
De repente, o objeto começou a se afastar em direção à vizinhança, que ficava há quase 2.5 km de distância.
Ainda tensas, porém, mais aliviadas, resolveram passar essa noite juntas. E deixaram uma lamparina no quarto, caso a luz acabasse.
Quando conseguiram finalmente pegar no sono... outro estampido assustador do lado de fora. Dessa vez o cachorro não latiu novamente e as duas não acordaram.