As duas Mulheres do Senhor Fontes: Rivais no amor amigas no desespero.


Adriana Ribeiro
 

     Que a Dona Emília era uma mulher muito doente já ficou aqui esclarecido e que o seu marido, o Senhor Fontes, precisava viajar muito por conta dos negócios que fazia e das terras que adquiria de tempos em tempos também. Assim, a esposa do fazendeiro era muito sozinha, pois os filhos ainda eram crianças e não podiam lhe fazer companhia. Seus pais adotivos e demais parentes que a criaram já não viviam mais nas terras onde ela nasceu, pois depois de casada ela passou a morar na fazenda só com o marido e os filhos.
     O fato de viver tão solitária a levou a se apegar à jovem babá Josefa, passando a ver nela a única amiga próxima, mas quis o destino que ela fosse mais tarde também a sua principal rival no amor.

     Se pelo simples fato de ser homem ou por ser o marido de uma mulher doente, em princípio ninguém sabia dizer, mas uma sequência de eventos rotineiros levou o Senhor Fontes a se interessar pela menina-moça negra - que, nem muito bonita era na época, diziam de passagem as línguas mais ferinas - e assim passar a se relacionar com ela sexualmente de modo que a mesma veio a ficar grávida ainda aos doze anos de idade.

     Saber do caso do marido com a babá provocou uma crise de tristeza e rancor na Dona Emília, mas como temia o marido e sabia que ele não poderia simplesmente mandar a menina embora, se viu obrigada a conviver com a mesma embaixo do mesmo teto por algum tempo. Quanto tempo as pessoas não souberam precisar.

     Assim, quando o marido viajava, D. Emília só podia contar com aquela que era a sua maior razão para lamentar a sorte. E mesmo quando a babá Josefa foi instalada na nova casa de taipa construída na propriedade para abrigar mãe e filho recém-nascido, essa proximidade não diminuiu. Era só o marido viajar e a D. Emília mandava chamar aquela que era a segunda mulher dele para lhe fazer companhia. Assim os anos iam passando, as famílias aumentando, as crianças crescendo e elas amadurecendo...

     Dizem que durante essas viagens do marido, quando os filhos já estavam um pouco maiores e a presença da negra Josefa na casa Grande já não era tão necessária, as duas continuaram a se fazer companhia. Quando se sentiam sozinhas por conta das viagens do Senhor Fontes para fazer comércio ou visitar suas terras fora da cidade, uma fazia companhia à outra e nesses momentos falavam das suas vidas, suas tristezas e seus problemas corriqueiros. Enfim, das suas condições de mulheres do mesmo homem e, enquanto isso, fumavam e bebiam juntas para passar o tempo.

     Dentre as bebidas mais tomadas, posto que D. Emilia sofria de doença crônica era a famosa meladinha, por ser feita com mel e arruda o povo dizia que era mais um remédio do que um veneno para mulher parida. E se servia para mulher parida não fazia mal para uma tuberculosa. Mesmo porque, durante aqueles primeiros anos em que D. Emília deixou de parir a D. Josefa continuou a fazê-lo. Então havia sempre uma criança pequena no colo delas e com ela um galão de meladinha e fumo para dividir as agruras da vida.

     E como o Senhor Fontes viajava muito, suas mulheres fizeram companhia uma a outra por muito tempo. Não se sabe o que conversavam porque elas não costumavam falar com gente de fora. Não se sabe ao certo, portanto, de quais tipos de assuntos falavam ou de que forma elas conseguiam conviver apesar das razões para a existência de uma rivalidade no amor.

     O fato é que, apesar das adversidades da vida, as duas mulheres conseguiram construir uma amizade e um companheirismo típico da solidariedade feminina, que as ajudou a superar as dificuldades e as tristezas.

E foi assim que a D. Josefa cuidou da D. Emília até quando tudo aconteceu e uma reviravolta se deu na vida de todos na fazenda, ao seu redor e mais além...

Continua...

 

Adriribeiro
Enviado por Adriribeiro em 18/03/2021
Reeditado em 25/12/2021
Código do texto: T7210420
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