Fontes: Um homem conquistador dividido entre as suas mulheres e a Dona da Mata
                                                        Adriana Ribeiro

 
     O Senhor Fontes, como já foi mencionado antes, era também um homem muito bonito, além de ser um honrado trabalhador e um grande negociante.
     Diziam as más línguas que ele era um grande conquistador e que por onde andava, seja aonde quer que fosse, sempre tinha uma ou outra mulher apaixonada por ele. Mas, de fato e de direito só teve uma esposa. Cuja morte, embora o sucedesse, levou também ainda muito jovem, vítima da terrível tuberculose, até então sem cura. E foi justamente por conta da sua característica de conquistador, que sua esposa sofreu muito antes de falecer.
Dizem que a mesma foi obrigada a conviver por muito tempo com a outra mulher que teve filhos dele, os quais ela acolheu e ajudou a criar, mesmo após a morte do próprio marido. E que essa mulher era na verdade uma adolescente negra chamada Josefa, que foi morar na “Casa Grande” justamente para ajudar a Senhora Emília a cuidar das filhas e a cuidar-se por conta da doença que sofria.
     
     A babá Josefa teve o primeiro filho do Senhor Fontes aos treze anos e, dalí em diante, pariu mais 6 vezes dele, vivendo sempre em companhia da esposa do mesmo, embora passasse a morar em outra casa na mesma propriedade.
    
      Assim contam as pessoas que viveram naquela época.
     
     E essa é uma das partes desta história cuja veracidade pode ser comprovada pela existência real das famílias desses filhos, dos netos, dos bisnetos e tetranetos, entre outros parentes, que se distribuem dentro do território sergipano de modo a comprovar que ele realmente teve descendentes negros. E pelas características físicas dos mesmos pode-se também comprovar não só que eram filhos de mães diferentes, como atestar as características físicas que faziam do Senhor Fontes um homem bem apessaodo .

     Mas, além desses fatos que são científica e historicamente comprováveis através de documentos que atestam que o Senhor Fontes teria sido um homem vistoso, há ainda uma pintura, já desgastada pelos anos, que testemunha (talvez) os traços fisionômicos do homem em si.
     
     Porém, se alguma dúvida restar de que a pintura não seja lá muito fiel, há ainda a fisionomia dos seus filhos homens e mulheres ainda vivos.
     Filhos que, afora o tom da cor da pele, apresentam fisionomias  e características físico-biológicas semelhantes ao do pai, como: tipo de cabelo, estrutura facial e envergadura corporal. De modo que olhar para os mesmos ajuda também a se formar uma base, ainda que rudimentar, da aparência física do mesmo.
    
   Já com relação às documentações que podem servir de testemunho da sua origem e características, pode-se averiguar seus documentos pessoais como batistério e registro de Nascimento, os quais podem ser adquiridos juntamente ao Cartório e a Secretaria da Igreja Matriz local, posto que o mesmo obteve as bênçãos dos sacramentos do batismo e do casamento através da mesma.

     Assim, além dos filhos, dos documentos e da imagam retratada que podem comprovar que realmente o Senhor Fontes foi um homem bonito e que essa beleza lhe rendeu o rótulo de conquistador de várias mulheres, entre as quais estão as que deram origens as suas duas famílias (a esposa e a babá), outras conquistas também lhes foram atribuídas pelas visitas de negócios que fizera em outros territórios, chegando a estabelecer residências nesses locais e adquirir propriedades.
    
      Mas, como se todas essas histórias ainda não bastassem, as crendices populares lhes atribuíram um feito que poucos homens conseguiram alcançar. Espalharam aos quatro ventos que o Senhor Fontes era o "amante preferido da Caipora".
    
      Não se sabe se foi pelo fato do mesmo gostar de caçar e de trabalhar nas próprias terras quase sempre sozinho, ficando próximo demais da natureza e assim “dos espíritos da floresta”. Ou, se porque ele era mesmo admirado por mulheres e invejado por homens por conta da sua aparência imponente.
     Mas, o fato é que diziam que ele tinha um concreto “caso de amor com a Dona da Mata”, a quem também chamavam de “Caapora” na região.

     Mas esse envolvimento com um ser feminino do imaginário popular podia estar relacionado com o fato de que ele caçava bem, desde que estivesse sozinho e nu. Mas, também podia ser por já ter sido visto com mulheres dentro da mata sem que fosse possível definir quem e de onde eram as mesmas. Tais figuras femininas, cujos traços fisionômicos, de longe nunca puderam ser identificados, ou, se por acaso alguém as reconheceu, nunca foram denunciadas, eram associadas à Caipora devido aos cabelos longos e ao fato de estar na mata propriamente. Um lugar que não é lá muito procurado pelas mulheres.
   
    Diziam inclusive, que quando o Senhor Fontes saía para caçar em determinadas noites, sempre levava uma quantidade de fumo e de apetrechos para fazer cigarros (outros falam de um par de cachimbos) a mais do que ele próprio poderia usar. Sempre mais do que um isqueiro ou qualquer outra coisa nesse sentido, que ele pudesse usar e dividir com alguém e como ele sempre passava sozinho diziam que ele levava para a amante misteriosa.

     Ainda espalhavam o boato de que nessas noites de caçadas ele era sempre visto até chegar à mata vestido, mas que havia determinados lugares, já lá dentro, em que ele tirava as roupas, as pendurava no tronco de arvores e ficava completamente nu. Essa falácia corroborava a suposição de que ele estava se relacionando sexualmente com uma mulher, mas como ninguém sabia quem era diziam ser a própria Caipora. Não se sabe se pelo fato de ser atribuída a essa personagem folclórica (a Dona do Mata) a preferência pelo uso do cachimbo na hora de fumar ou se pelas dádivas que concedia ao Senhor Fontes consideradas por alguns menos fantasiosos como "sorte" de caçador.

    Mas, é importante que se diga, que as pessoas mais impiedosas não paravam por aí. Diziam ainda que o Senhor Fontes temia ficar viúvo justamente porque sua esposa era alvo constante dos ciúmes rancorosos da Caipora. Uma vítima indefesa das malvadezas e vinganças desta.
     Claro que as pessoas têm suas ideias e falam aquilo que acreditam. E, mesmo sabendo pelos médicos que a Dona Emília sofria de tuberculose, espalhou-se um mito na cidade de que era por conta do caso do Senhor Fontes com a Caipora que sua esposa sofria muito.
   Diziam que nas noites que ele não saía pra caçar, por qualquer que fosse a  razão que o impedia de ir à mata, a Caipora vinha em sua casa e dava uma surra na sua esposa. E que a entidade fazia isso para que ele não pudesse ter relações sexuais com ela, já que esta ficava toda dolorida. 
   Afirmavam inclusive que era desta forma que ela o mantinha necessitado de seus favores e, assim, preservava-o como se fora a sua única dona. E ele o “Escolhido da Dona da Mata”.

     Bem! Que o Senhor Fontes era bonito e elegante não havia quem discordasse. Agora, no tocante aos boatos de que ele tinha realmente um caso com a Caipora ou não, não se sabe e não se pode comprovar. Mas o fato é que ele esteve envolvido com muitas mulheres enquanto viveu e isso ninguém nega. Assim como também não negam que o mesmo dormia em quarto separado pois sua esposa sofria crises de dores horríveis e tosses incessantes devido à doença.
     Mas, se essas crises eram ou não provocadas pelas surras da amante invisível do seu marido isso ninguém sabe e ninguém viu. Mas que o povo falou, falou.

     Quanto à relação do Senhor fontes com suas duas principais mulheres e a capacidade do mesmo de conquistá-las e mantê-las unidas, ou mais que isso, como amigas, merece um capítulo desta obra.
E, sendo assim, ela continua...




 

Adriribeiro
Enviado por Adriribeiro em 15/03/2021
Reeditado em 25/12/2021
Código do texto: T7207890
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