Apresentação
Adriana Ribeiro
 
Fontes: O homem que viu o céu e o inferno antes de morrer.

     Conta-se em baixo tom a história de um fazendeiro valente que viveu nas proximidades do Município de Arauá, Estado de Sergipe, num pequeno Povoado chamado Olhos D'água.
     
     Diversas pessoas de mentes engenhosas e bocas incontidas que viveram naquele tempo, contam, entre fotos e fantasias, relatos de que o Senhor João Ribeiro Fontes era um homem nascido de família pobre, porém se tornou um rapaz muito trabalhador e determinado, de modo que ainda jovem conseguiu amealhar uma grande fortuna.

     Afirmam que, ainda quando era rapaz, o Senhor Fontes - como passou a ser chamado por todos - deu início à sua trajetória de enriquecimento não só por meio do próprio trabalho braçal, do seu grande conhecimento agrícola e admirável tino comercial, mas também devido a um bom casamento.

     Filho mais velho do Senhor Antônio Ribeiro e da Dona Concórdia Fontes, nasceu na Fazenda Olhos d'água e lá se fez homem. Um bonito e honrado trabalhador. Sendo logo escolhido para marido pela filha adotiva dos donos da fazenda onde vivia e trabalhava, com a qual logo se casou.

     Corajoso e obstinado começou a tomar conta da propriedade logo após o casamento e tudo que se punha a fazer lhe rendia bons resultados. Tinha uma espécie de sorte a lhe rondar e como gostava muito de caçar, uma das muitas lendas que o cercaram tinha o intuito de explicar também a sua capacidade de sempre voltar do mato com algum tipo de caça apreciada por todos. Fato que lhe rendeu o mito de que seria O protegido da Caipora e dos Caboclos do mato.

     E, além de ser um grande caçador, acostumado a usar armas e enfrentar os perigos das matas nativas, o Senhor Fontes era também um grande conhecedor da terra e tudo que decidia cultivar dava bons resultados. Sendo um grande produtor de bananas, mandioca e cana de açúcar nas redondezas. Cujas produções eram vendidas nas feiras livres e comércios das comunidades vizinhas, sejam in natura, sejam transformados em farinhas, mel cabaú e rapadura.

     Um fato muito curioso sobre o personagem em questão é que este era muito atraente e conquistador, o que lhe rendeu certas regalias em relação às mulheres da região onde vivia e das localidades em que veio a adquirir terras.

     Porém, a situação inusitada de manter duas famílias na mesma propriedade chamava a atenção da população local e o fato de as duas mulheres envolvidas na mesma serem amigas, despertava ainda mais o interesse do povo e o desejo de inventar e espalhar histórias e estórias...

     Mas essas estórias não seriam tão interessantes se as duas mulheres em questão não tivessem suas características físicas tão distintas, posto que a esposa, chamada Dona Emília, era branca e pertencente à elite enquanto que a outra, chamava-se Josefa e era uma negra de família pobre. Criada da casa na verdade.
     Então, como uma amizade assim poderia acontecer livre de qualquer pressão?
     E para explicá-la haviam várias teorias na comunidade local. Todas oriundas de especulações, pois nenhuma das duas costumava falar de suas vidas para ninguém já que temiam o Senhor Fontes e não buscavam contrariá-lo.

     A convivência com as duas mulheres deram ao Senhor Fontes a condição de pai de filhos brancos legítimos e filhos pretos bastardos perante a sociedade. Estes últimos eram discriminados pelos próprios trabalhadores do Senhor Fontes (os chamados capangas pelos contadores desses causos, pois sempre andavam armados e a cavalo junto com o patrão).
     A única exceção a esse tratamento hostil era o filho mais velho, apenas por ser o primeiro filho homem e ter uma cor mais clara que os outros irmãos.

     Da família legitima era pai de um um filho (que morreu adolescente e tinha "retardo mental" como diziam) e  três filhas muito bonitas, pelas quais tinha grande zelo e afeição. Esse cuidado de pai o fazia vigilante e sua figura imponente juntamente com sua fama de homem valente e bravo, afugentava a maioria dos pretendentes que ousavam olhar para suas filhas brancas.

      Mas o destino, com suas artimanhas e peripécias, quis que, por causa desse amor de pai, o Senhor Fontes viesse a cometer os maiores erros da sua vida, tendo inclusive que pagar por eles, abreviando assim os seus dias sobre esta terra.

Continua...


 
Adriribeiro
Enviado por Adriribeiro em 13/03/2021
Reeditado em 11/08/2021
Código do texto: T7205549
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