Os diálogos toltecas

- Ninguém questiona quem construiu as pirâmides no México - declarou enfaticamente Benjamín Cicerón. - As civilizações mesoamericanas estavam, ao seu tempo, entre as mais avançadas do mundo; mesmo os conquistadores espanhóis admiraram-se de lá encontrar grandes cidades, templos, ruas e canais, que nada ficavam a dever às melhores metrópoles europeias.

- Mas sempre há algum aventureiro que procura retirar os méritos dos nativos e nomear alguma civilização perdida... quase sempre de nórdicos louros... como os verdadeiros responsáveis por tais maravilhas - espicaçou-o Coby Holmes. - Ou, pior: deuses-astronautas com uma tecnologia extremamente avançada...

- Bem o sei - lamentou-se Cicerón. - E não contribui para aclarar o debate que as estátuas descobertas por Jorge Acosta em 1940, tenham sido batizadas como "Atlantes de Tula". Os leigos, erroneamente, interpretam "atlante" como associado à mítica Atlântida.

- O termo realmente não ajuda a aclarar o debate - comentou Holmes. - E de onde vem, afinal?

- De Atlas, o titã que sustentava os céus sobre seus ombros. Pois era similar a função dos quatro atlantes de Tula: suportar o peso do telhado da pirâmide de Tlahuizcalpantecutli. A cobertura não existe mais, mas as estátuas subsistem até hoje.

- E converteram-se num polo turístico, que atrai gente do mundo todo - ponderou Holmes. - Que alguns destes imaginem estar diante de restos da Atlântida ou da representação de extraterrestres, certamente se deve ao charme de Tula...

- Isso é falta de aplicação da Navalha de Occam - avaliou Cicerón. - Entre uma origem fantástica, mas sem qualquer comprovação científica, e outra, simples e baseada em fatos arqueológicos, com qual devemos nos fixar?

- Os toltecas foram um grande povo, - concedeu Holmes - mas entre eles e a Atlântida, aposto que a maioria das pessoas acaba achando a lenda bem mais instigante...

- Se continuarem trazendo divisas para o México, não me importo que suas noções preconcebidas venham na bagagem - concluiu Cicerón.

- [03-03-2021]