Cogitare

O que pensar? Pensar sobre ou não pensar? Essa dualidade permanece sempre nas decisões psíquicas. Quando se deixa pensar sobre, se recorre ao momento das evasões e tudo que atrai ao pensar se torna único e muitas vezes doloroso. A lembrança surte como uma pulsão e, logo, uma tensão física, depende da intensidade com que você sente. De certo modo, a percepção do que sentir e porque sentir revela o mais doentio satisfazer do ser, a busca incessante por explicações. Por que aquilo? Por que isso? Por que deste modo? Bem ou mal? Inconsciente ou consciente? Respostas válidas e pessoais. Única e devida suposição, pressuposta, por analogias de situações apontam para o mais sublime clareamento dos fatos, essa é a luz. A luz do à mostra, tudo, ou pouco, se revela. Ligamento de pontos, submissões, colocações breves, pensamentos exorbitantes. Coloquiais ou não, está nesse o encadeamento do pensar sobre.

Não pensar é aquilo fácil de fazer, mas com possíveis retaguardas da mente. O pensamento surte e age nas pulsões físicas, com a internalização de tudo que se passa, a básica música do coração se distorce e as linhas pontiagudas do corpo se energizam como um abalo sísmico. Luminosidade só há no imenso céu azul durante o dia, e pulsantes luzes a noite, que abrangem a relação da natureza com o humano. Não pensar é atrasar o que você quer e não quer, é buscar uma explicação mais plausível para aquilo que está invisível aos olhos. Enxergar é como pensar. Senão buscar o mais longe, ou seja, o alvo, não basta. E deixar de enxergar, está no adiamento. Vai chegar e não pensar, infelizmente, é como adiar o inadiável.

Entregar o que não se quer é submeter a dualidade psíquica que se encontra nas mais duras pulsões do subconsciente. A chave é ligada e apenas um ‘desligar de cabos’ retorna ao início do pensar. Talvez a busca por pensar sobre seja um alívio e não uma situação dilacerante: esclarece. Na busca por não pensar se omite a razão, o que é legítimo e nunca um desencorajamento. Falta palavras, luz e olhos. No subconsciente, se não acender, busque não adentrar. O submundo lhe cobra o grau necessário e ao seu alcance de buscar. Não existe subconsciente sem um. Se tudo que está ali lhe pertence, o que te impede de pegar o prêmio que lhe é de direito?

Everton da Fonseca Nunes – xx/xx/xxxx