Preciso me encontrar!
No céu muito fácil identificar planetas, estrelas, satélites e constelações. Bem, pelo menos para mim. Desde meus cinco anos já estudava astronomia, por partes eu gostava, mas meio que fui obrigado desde cedo a saber de tudo sobre o infinito do universo e nada sobre tudo isso que está do nosso lado e não a anos luz de distância.
Fui obrigado até mesmo porque nunca pude atravessar os muros de Ville City, só havia mato após os eles, a não ser por um clarão que dava todas as noites, onde diziam ficar uma hidroelétrica. Enfim, nunca me interessei em ver o que havia no lado de fora. Também nunca me senti atraído para participar das aulas recreativas de caça que aconteciam além do portão de caça, dentro da área de caça, dentro da mata.
Meus professores eram os mais variados, vinham aqui em casa e passavam tardes tentando explicar teorias e leis que fantasiavam o universo. Xavier, um inglês barbudo, com bochechas grandes e olhos azuis foi um dos professores que mais conseguiu me ensinar realmente o essencial, ou talvez o que eu realmente queria aprender: questionamentos sobre a vida, uma coisa chamada filosofia. Ele conseguiu essa proeza falando sobre as teorias de vida extraterrestre, o paradoxo de Fermi e principalmente o zoológico galáctico, a teoria que diz que somos vigiados por aliens e vemos apenas o que eles querem.
Infelizmente, ele chegara a uns três dias atrás e já fora mandado embora. Meus pais não pagam um professor para fazer um adolescentes sonhar ou questionar, pagam para que eu me torne um grande cientista, um astronauta e ganhe o Prêmio Nobel de Física. Os papéis de meus estudos são todos os dias arquivados, fico sem acesso a eles para que minha memorização seja excelente, é uma forma de me fazer aprender à força a Astronomia, Matemática, Física, Geologia, Metereologia, Oceanografia, Navegação, Mecânica Orbital, Processamento de Materiais, Sistema de ônibus espacial, Lingua Russa e Inglesa, mas que estou acostumado. Fazem isso comigo porque querem me dar uma educação de qualidade, tem dinheiro para isso e minha família tem um passado de gênios, uma linhagem de Cortelas que ganharam o mundo da ciência e que agora chega em mim.
Os olhos de meus pais brilham, principalmente os de minha mãe, uma cortela que não pode seguir esse ramo por ser mulher, afinal mulheres não são feitas para a ciência. Isso é uma regra bastante seguida em Ville City, mas que no contexto biológico e químico não faz sentido algum.
Enfim, sem questionamentos!
Após alguns minutos roendo as unhas, andando por todo o meu quarto e tentando evitar esses pensamentos, não consegui. Xavier viera somente para tirar meu sono com suposições aleatórias? O meu mundo, agora, tão abruptamente estava de cabeça para baixo e eu tentava não pensar nas milhões de palavras, frases e suposições que vinham em minha cabeça, uma tontura atordoante me fez sentir em um lugar no qual tudo ficou tão estranho que parecia uma simulação que me fizera sentir em um lugar no qual tudo derretia, minha cabeça rodava, meus pés não sentiam o chão e tudo ficou tão estranho que parecia uma simulação que me fizera ficar em mundo sem qualquer existência das Leis da Física.
Mesmo que essa estranheza me fizesse delirar ferrenhamente, alguns questionamentos não me abandonavam, eram como uma prensa de ferro que esmagava meu crânio, mas ao mesmo tempo me deixava suficientemente vivo para pensar.
Como Xavier chegara e fora embor se durante toda a semana não houve nenhum avião entrando ou saindo de Ville City? O portão principal de caça havia sido usado? Mas do outro lado não havia nada, ou será que havia? E por qual motivo nunca haviam me contado nada? Meu estômago fora embrulhado por uma sensação horrível, tão atordoante quanto a sensação de saber que após a morte só há uma escuridão angustiante e irreversível. A mesma sensação que cochichava em meus ouvidos “Zoológico Galáctico, Zoológico Galáctico, Zoológico Galáctico, Zoológico Galáctico, Zoológico Galáctico, Zoológico Galáctico, Ville City”.