O MALDITO MAPA DO TESOURO!

Todas as noites ouvia a chata da minha mulher contando a história de um tal tesouro que o seu tio falecido tinha herdado. Contava que o homem tinha enterrado a sua fortuna num terreno próximo a uma fazenda e que só ela tinha o mapa do tesouro. Noite após noite, aquando me ia deitar, ouvia aquela lengalenga. Depois de um longo dia de trabalho a ultima coisa que queria ouvir era os sermões irritantes daquela velha, “se encontrasses seriamos ricos”, “já que não trabalhas o suficiente, o tesouro seria a nossa salvação”, “nunca sairemos desta pocilga”… Quero referir que a minha adorável esposa (sarcasmo) ficava em casa o dia todo, e nem sei dizer ao certo o que ela fazia. Eu nunca dei ouvidos a essa louca, mas ela constantemente insistia no maldito tesouro. Certo dia, chegando a casa estafado após um longo trabalho nas minas, sentei-me na cadeira da cozinha e comecei a olhar para os meus braços sujos do pó e das cinzas, enquanto observava a pequena casa onde vivia. Foi aí que comecei a pensar mais seriamente no que a minha mulher me falava noite após noite. Então, numa noite lá lhe fiz a vontade e perguntei “mulher, dá-me lá o maldito mapa que vou à procura do malquisto tesouro!”; porém aquela louca surpreendeu-me com a sua resposta perversa e depravada, “somente eu tenho o mapa, foi o meu querido e falecido tio que me ofereceu, por isso, se o queres vem busca-lo entre os meus seios”. Sentado ao seu lado na cama, fiquei a olhar para ela esperando que ela dissesse que era uma mera brincadeira, mas não, era mesmo verdade. Foi então que resmunguei, virei-lhe as costas e deitei-me, nem por sombras eu tocava naquela pele flácida e velha!

Passado alguns meses comecei a escavar. Não sabia por onde começar a escavar, mas deveria estar ali, sem dúvida que estava. Dia após dia escavava com a esperança de encontrar algo reconhecível. Demiti-me do meu trabalho para me dedicar à busca do tesouro. A burra da minha mulher nunca me deu o mapa, e mesmo assim, queria que eu descobrisse onde estava, afinal ela queria ficar rica ou que eu lhe acariciasse as peles degradantes? Mulheres! Havia dias em que o suor banhava por completo o meu suado corpo e o sol abrasador não ajudava em nada. Por semanas continuei a escavar, cada pedaço de terra foi esburacado, de cinco em cinco centímetros eu escavava na esperança de achar o procurado. Não havia maneira da busca chegar ao fim. Foi então que certo dia, quando o sol já se punha no horizonte com uma cor arroxada, dentro de um buraco com profundidade de sete metros, encontrei aquilo que procurava!

Nem pude acreditar que tinha encontrado! Estava tão feliz que até me sentei por uns momentos a contemplar o achado! Brilhava aos meus olhos como se fosse diamante, uma luz tão intensa que até me apeteceu verter uma lágrima de tanta alegria. Por fim poderia sair da miséria! Finalmente, depois de muito cavar, tinha encontrado o corpo da minha mulher que tinha enterrado meses antes! Quando a enterrei esqueci-me de lhe tirar o maldito mapa dentro dos volumosos seios! A velha lá ganhou, sempre tive de tocar naquela carne em decomposição, mas pelo menos agora já posso ir à procura do maldito tesouro!

Audaces fortuna juvat, timidosque repellit! [Ao homem ousado, afortuna estende a mão].

Lord Jáo
Enviado por Lord Jáo em 24/02/2020
Reeditado em 03/03/2020
Código do texto: T6873585
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