TAÇA DE VINHO - O conto
A janela da mansão estava sempre aberta em determinadas horas, as cortinas de cor alaranjada, puxando para o vermelho, esvoaçavam com o vento. Dela dava para ver toda a rua nem tanto movimentada, porém alguns dos transeuntes e até motoristas sempre arriscavam um olhar para aquela janela, não por sua beleza ou pela tonalidade da cor da cortina, mas pela figura feminina que nela surgia e que causava uma certa atração nos homens que por ali passavam. O olhar fulminante de Perla deixava qualquer marmanjo "fora de órbita" quando avistava aquele corpo esbelto e convidativo, era uma situação irresistível. Um ou outro cavalheiro que "caía na graça" de Perla era convidado com um simples aceno para subir, dificilmente alguém recusava.
Ivan já havia notado com estranheza aquele "espetáculo", geralmente no final da tarde, isso o deixava impressionado, até que numa certa tarde o aceno foi para ele. Pensou em resistir, afinal tinha família, mas sentiu-se como hipinotizado com aquele olhar sedutor e o seu machismo não o deixou recuar. Estacionou o carro nas imediações e entrou na mansão, tendo ajuda de uma governanta que o atendeu na entrada. Sorridente, porém nervoso, viu-se só numa ampla sala onde a governanta o mandara aguardar. Em poucos minutos Perla surgia, sorridente e com olhar malicioso, dava a impressão de já conhecê-lo de muito tempo. Cumprimentou-o com um abraço seguido daquele tradicional beijinho "faz de conta" quando duas pessoas se encontram. Um pouco de conversa e uma taça de vinho para recepcioná-lo, ela mesma serviu deixando-o bem a vontade.
Ivan já ia na terceira taça de vinho quando foi convidado para ir até o quarto, estava eufórico e ansioso para um contato mais íntimo. Adentraram os aposentos de Perla que se despiu imediatamente, vendo aquele corpo nu maravilhoso ele não pensou duas vezes, tirou sua roupa e abraçou-a com vigor, caindo os dois sobre uma cama bastante grande e macia. Beijos ardentes e sussurros ao ouvido até a penetração e o gozo que parecia ser interminável. Aquele homem vigoroso permaneceu por alguns minutos com o olhar vazio para o teto, sua amante apenas o observava sorvendo sua taça de vinho com um sorriso malicioso, parecia satisfeita com o que acabara de fazer.
Ainda era começo da madrugada quando Ivan pronunciava palavras desconexas, era como se conversasse com alguém, até que deu um profundo suspiro e não mais fez qualquer movimento. Estava morto aquele homem vigoroso que possuiu Perla e a fez delirar de tanto prazer. A mulher vestiu-se e chamou a governanta que a ajudou a remover o cadáver e colocá-lo em uma sala secreta do porão. Lá existia uma mesa enorme rodeada de cadeiras envoltas de teias de aranha, em quase todas as cadeiras estavam dispostos vários corpos de homens elegantemente vestidos, devidamente conservados dando a impressão de estarem vivos. Suas mãos seguravam taças com vinho e seus rostos demonstravam alegria.
No dia seguinte Perla voltou para a janela, exibia seu corpo escultural e um sorriso malicioso. Alguns transeuntes passavam, esperava ela que algum deles lhe agradasse.