O mistério da faca
Minha avó materna, era uma senhora, moradora de fazenda, até muito boa. Meu avô tinha uns dez ajudantes, pois tinha lavoura de café, cana de açúcar (fazia rapaduras para vender), e plantava também legumes, bananas e algumas frutas. Tirava também um pouco de leite, fazia queijos para vender, e um pouco de leite ia para cooperativa. Naquele tempo eu nem imaginava o que era indústria, cada um fazia para si e os pobres eram pobres mesmo, mal tinham suas casinhas de barro para morar, com piso de terra batida e telhados de sapé, sem banheiro ou água encanada, e ganhavam o pouco que o patrão podia pagar.
Os ajudantes de meu avô almoçavam as 10 hs, tomavam café as 14hs e a tarde minha avó fazia um caldeirão de canjiquinha de milho, com cheiro verde, torresmo, ou sopa de couve com ovos, um cheiro de carne, e cheiro verde, para que seus empregados não ficassem com muita fome, até chegar em casa. As cinco era servido essa iguaria, e tomos nós comíamos juntos, os empregados sentavam no alpendre da casa, aonde havia dois bancos grandes. E nós ficávamos na copa ou cozinha. Mês de férias a casa ficava literalmente cheia de netos.
Minha mãe, levava-nos para passar as férias escolares, de julho e dezembro na casa de meus avós, Marcolino e Ivone, a propriedade se chamava Fazenda Flor de Minas. Era uma bela fazenda, de encher os olhos de todos. (Minas Gerais). Que férias boas! A gente fazia de tudo, andava a cavalo, nadava nas cachoeiras, ajudava moer cana tocando o cavalo para o engenho moer a cana, para fazer rapadura. Levava café com broas de milho, para os empregados do vovô, bebia leite no curral, as frutas eram abundantes, muitos lugares para visitar e aproveitar cada dia. A noite, minha avó fazia auditórios, onde dava poesias para nós lermos, canções para cantar ao som do violão, etc. Eram mais de 20 netos reunidos, e as atividades eram coletivas. Esta foi a parte boa de minha infância/adolescência.
Pois bem, as louças eram antigas, panelas enormes de ferro ou pedra. Havia pouca coisa comprada da cidade, por ser muito longe destas. Paiva, Santa Bárbara do Tugúrio ficavam mais próximas, mesmo assim era longe e eram cidades ainda pequenas. Se precisasse de tecidos, farinha de trigo, etc, precisava ir em Barbacena, uma cidade maior. E minha avó, certa ocasião, comprou 3 facas de tamanhos diferentes e, morria de ciúme delas. Ocorreu, que eu fui chupar umas laranjas, e peguei logo a faca preferida dela, a menor. Quando terminei, a joguei em uma prateleira grande, da cozinha. Minha avó revirou a cozinha, ficou brava, queriam me colocar de castigo, levei a culpa por anos, muito embora, com o passar do tempo me perdoou, mas eu sempre jurava, que havia jogada a faca na maldita prateleira.
Depois da morte de meu avô, minha avó mudou-se para cidade. E a fazenda ficou velha e sem manutenção, com um tio morando nela. De herança esse meu tio, ficou com a sede da fazenda. E pouco anos atrás, ele resolveu mexer nesta prateleira para pintar e fazer reparos na cozinha. E qual não foi a surpresa dele ao encontrar a faca, bem entre a tábua e a parede, de forma que não dava para ver mesmo. Passei mais de quarenta anos ouvindo esta história, e os tios sempre me perguntando se eu não tinha outra versão para contar, pois era impossível uma faca sumir assim. Faziam troças, brincavam, mas eu sempre ficava séria pois parecia que ninguém acreditava em mim.
Meu tio disse que se sentiu tão mal, pois ele também as vezes achava que eu tinha sumido ou quebrado, a maldita faca de estimação da vovó. Minha avó já morreu há tanto tempo, frequentava minha casa depois que eu já era casada, e não pode saber que na verdade eu era inocente.
Na psicologia, aprendi, que um objeto de estimação, até uma panela, pode fazer uma pessoa focar naquilo e pegar manias, eles falavam que minha avó era meio tam-tam da cabeça. Agora, percebo que ela já tinha a predisposição a demência (Mal de Alzheimer). Mas naquele tempo tudo que os idosos faziam de diferente, atípico, era caduquice, a caduquice ficou mais chique e recebeu um nome de um alemão.
É minha avó, eu te amava de qualquer jeito, tanto é que não saia de sua casa e você também me visitava sempre. Agora a senhora sabe, que sou mesmo inocente. E que passou mais de 40 anos para a verdade vir à tona. E a faca ainda existe, se fosse hoje, com tantos objetos para comprar, a senhora nem ia fazer conta de sua faca de estimação, era só comprar outra igual. A imagem da acusação nunca saiu da minha cabeça. Obrigado tio Ademir por ter me contado a verdade. Tirei um peso da mente, era uma faca, mas para ela, não era apenas uma faca, era também um objeto amado. ASSIM TERMINOU O MISTÉRIO DA FACA DESAPARECIDA
(100 mais lidos da semana)
Minha avó materna, era uma senhora, moradora de fazenda, até muito boa. Meu avô tinha uns dez ajudantes, pois tinha lavoura de café, cana de açúcar (fazia rapaduras para vender), e plantava também legumes, bananas e algumas frutas. Tirava também um pouco de leite, fazia queijos para vender, e um pouco de leite ia para cooperativa. Naquele tempo eu nem imaginava o que era indústria, cada um fazia para si e os pobres eram pobres mesmo, mal tinham suas casinhas de barro para morar, com piso de terra batida e telhados de sapé, sem banheiro ou água encanada, e ganhavam o pouco que o patrão podia pagar.
Os ajudantes de meu avô almoçavam as 10 hs, tomavam café as 14hs e a tarde minha avó fazia um caldeirão de canjiquinha de milho, com cheiro verde, torresmo, ou sopa de couve com ovos, um cheiro de carne, e cheiro verde, para que seus empregados não ficassem com muita fome, até chegar em casa. As cinco era servido essa iguaria, e tomos nós comíamos juntos, os empregados sentavam no alpendre da casa, aonde havia dois bancos grandes. E nós ficávamos na copa ou cozinha. Mês de férias a casa ficava literalmente cheia de netos.
Minha mãe, levava-nos para passar as férias escolares, de julho e dezembro na casa de meus avós, Marcolino e Ivone, a propriedade se chamava Fazenda Flor de Minas. Era uma bela fazenda, de encher os olhos de todos. (Minas Gerais). Que férias boas! A gente fazia de tudo, andava a cavalo, nadava nas cachoeiras, ajudava moer cana tocando o cavalo para o engenho moer a cana, para fazer rapadura. Levava café com broas de milho, para os empregados do vovô, bebia leite no curral, as frutas eram abundantes, muitos lugares para visitar e aproveitar cada dia. A noite, minha avó fazia auditórios, onde dava poesias para nós lermos, canções para cantar ao som do violão, etc. Eram mais de 20 netos reunidos, e as atividades eram coletivas. Esta foi a parte boa de minha infância/adolescência.
Pois bem, as louças eram antigas, panelas enormes de ferro ou pedra. Havia pouca coisa comprada da cidade, por ser muito longe destas. Paiva, Santa Bárbara do Tugúrio ficavam mais próximas, mesmo assim era longe e eram cidades ainda pequenas. Se precisasse de tecidos, farinha de trigo, etc, precisava ir em Barbacena, uma cidade maior. E minha avó, certa ocasião, comprou 3 facas de tamanhos diferentes e, morria de ciúme delas. Ocorreu, que eu fui chupar umas laranjas, e peguei logo a faca preferida dela, a menor. Quando terminei, a joguei em uma prateleira grande, da cozinha. Minha avó revirou a cozinha, ficou brava, queriam me colocar de castigo, levei a culpa por anos, muito embora, com o passar do tempo me perdoou, mas eu sempre jurava, que havia jogada a faca na maldita prateleira.
Depois da morte de meu avô, minha avó mudou-se para cidade. E a fazenda ficou velha e sem manutenção, com um tio morando nela. De herança esse meu tio, ficou com a sede da fazenda. E pouco anos atrás, ele resolveu mexer nesta prateleira para pintar e fazer reparos na cozinha. E qual não foi a surpresa dele ao encontrar a faca, bem entre a tábua e a parede, de forma que não dava para ver mesmo. Passei mais de quarenta anos ouvindo esta história, e os tios sempre me perguntando se eu não tinha outra versão para contar, pois era impossível uma faca sumir assim. Faziam troças, brincavam, mas eu sempre ficava séria pois parecia que ninguém acreditava em mim.
Meu tio disse que se sentiu tão mal, pois ele também as vezes achava que eu tinha sumido ou quebrado, a maldita faca de estimação da vovó. Minha avó já morreu há tanto tempo, frequentava minha casa depois que eu já era casada, e não pode saber que na verdade eu era inocente.
Na psicologia, aprendi, que um objeto de estimação, até uma panela, pode fazer uma pessoa focar naquilo e pegar manias, eles falavam que minha avó era meio tam-tam da cabeça. Agora, percebo que ela já tinha a predisposição a demência (Mal de Alzheimer). Mas naquele tempo tudo que os idosos faziam de diferente, atípico, era caduquice, a caduquice ficou mais chique e recebeu um nome de um alemão.
É minha avó, eu te amava de qualquer jeito, tanto é que não saia de sua casa e você também me visitava sempre. Agora a senhora sabe, que sou mesmo inocente. E que passou mais de 40 anos para a verdade vir à tona. E a faca ainda existe, se fosse hoje, com tantos objetos para comprar, a senhora nem ia fazer conta de sua faca de estimação, era só comprar outra igual. A imagem da acusação nunca saiu da minha cabeça. Obrigado tio Ademir por ter me contado a verdade. Tirei um peso da mente, era uma faca, mas para ela, não era apenas uma faca, era também um objeto amado. ASSIM TERMINOU O MISTÉRIO DA FACA DESAPARECIDA
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