Confronto em Lugduno

[Continuação de "Um ritual em Lugduno"]

- Isso não prova absolutamente nada - falei ao telefono para o meu sócio em Ebora Cerealis. - A minha chegada em Lugduno não foi exatamente em segredo. Sabendo disso, quem armou pra cima de Canutia Proba, pode ter decidido fazer o mesmo comigo. Só que resolveu fazer de conta que a minha oferenda havia sido aceita: as sementes de feijão sumiram praticamente todas.

- Tenho que concordar com você, embora me arrisque a perder a aposta - acedeu Tertius Acilius. - Longe vai o tempo em que espíritos vingativos se contentavam com caroços de feijão...

- O que você sugere?

- Acho que está na hora de fazer uma visita ao nosso colega, Octavianus Decumius e descobrir qual é o papel dele nessa história. Mas, peço-lhe que tome cuidado - estamos lidando com gente perigosa.

- Nem precisava pedir - respondi.

Não muito surpreendentemente, Octavianus Decumius concordou em me receber em seu escritório, num prédio comercial com vista para o rio Arar.

- De onde você veio mesmo? - Indagou ele, quando nos pusemos frente a frente.

- Ebora Cerealis, Lusitânia.

- Longe, hein? Colegas e curiosos têm aparecido na cidade desde que o caso do espectro de Amulius Probus foi parar na mídia... há muita gente querendo os seus minutos de exposição televisiva.

- Confesso que não é esse o meu caso - declarei. - Mas como ambos somos de cidades de porte médio, não de grandes centros, gostaria de saber como pretende resolver o problema do espírito infeliz, para que a legítima herdeira possa tomar posse do palacete ou vendê-lo, pelo preço justo.

Octavianus entrelaçou os dedos das mãos, cotovelos apoiados na escrivaninha.

- Desculpe, mas... o que você tem a ver com isso... colega?

- Deixe-me revelar o que estou fazendo aqui em Lugduno, colega - retruquei. - Sou representante de Canutia Proba, e portanto, estou autorizado por ela a tomar qualquer providência no sentido de mandar esse espectro para os Campos Elíseos. Claro, se eu tiver sucesso, creio que isso lhe dará uma tremenda exposição televisiva. Negativa, infelizmente.

Octavianus Decumius mordeu o lábio inferior.

- Mas eu fui contratado por Vopiscus Probus, filho do falecido...

- Vopiscus Probus não é o herdeiro do palacete; Canutia Proba é - atalhei. - Portanto, a partir de agora as coisas serão feitas do meu jeito, não do seu.

Vendo que o colega parecia atordoado, ergui-me para me despedir.

- À meia-noite de hoje, farei meu exorcismo - avisei.

- Como queira - respondeu Octavianus Decumius, sem me encarar.

[Finaliza em "O segredo de Lugduno"]

- [30-12-2018]