Errante viagem errante
"- Eu sei que ter vindo parar aqui, foi certamente a viagem mais errada que já fiz". "- Mas disso eu já sei, mero corpo degradado. Tarde de mais.
Ah, mas sinto tanta dó de tí, pequenino anjo errante. Andas tão cambaleante, seguras as próprias vestes para que não caiam. Simples palha seca ao vento...deixas que ele te leve, pois sei que não passas de um perdido, sempre foi e sempre será, sempre! Qual o teu caminho? Consegue enxergar ainda? Hahaha! mas são tantos...anda, olha pra frente!"
De joelhos, sobre folhas secas, eu me encontrava, e olhava perdidamente pra elas. O sangue que escorria por sobre meus olhos, ofuscavam minha visão, e pingava sobre as folhas. Quem se encontra mais seco? Isso...bebam, levem uma parte de mim, antecipem minha chegada. "- Aposto que ele não encontra a saída, pago pra ver." "- Ele sempre usa as cicatrizes como mapa... tem incontáveis no corpo, e na alma, como marcas de correntes quente."
"- Me leva oh vento, ou apodrecerei aqui! Sem que ao menos possa ter, sem que ao menos possa ver, e sorrir...todo aquele sonho, todo aquele delírio, todo aquele amor." Achava que ia brilhar pra sempre...não imaginava jamais, que fosse findar. Lavarei meu rosto no rio sagrado, levará meu sangue pra bem fundo. Junto dos cascalhos negros se dissolve. Daqui de cima é possível ver tudo, e agora faz sentido. Vi uma sombra alí próximo. O espectro parou a uma certa distância olhando nos meus olhos com olhar zombeteiro e um sorriso de aspecto macabro. Escuro como uma noite sem lua. E esbravejou algo confuso:
"-Hahaha! Tem certeza? Foi nesse exato local mesmo, lembra? Cada detalhe, cada mínimo detalhe... Ele morrerá em breve" Depois fitou o chão, com o mesmo sorriso, de um lado só. Fechou os olhos, e se desfez como poeira.
Sentiu a dor que habitava em mim, e se foi. Somos a dor, a própria dor. Foi naquela noite, que o anjo da morte conversou comigo.