Pergunta
— O que é a vida?
— Ah essa é a pergunta que todos acham ser a certa.
— E não é?
— Não poderia ser.
— Mas então qual é?
— Eu não posso dizer, posso?
— Não sei, pode?
— Se eu disser, você não a encontra. Eu terei lhe dado. E isso não é o certo.
— Por que não é certo?
— Porque é errado.
— Mas quem é você para dizer o que é certo e o que é errado?
— Eu? Ninguém. Sou ninguém, mas encontrei a pergunta certa. Então não posso dizer que sei o que é certo, mas posso dizer que sinto o que é errado.
— Então o que você não sente que é errado é certo?
— Oh, meu jovem, você tem muito o que entender ainda.
— Então me explique.
— Estou tentando.
— Mas você não me dá nada.
— Porque não posso.
— Por que não pode?
— Já lhe disse: porque se eu te der, você não encontra.
— Tenho que encontrar tudo sozinho?
— Não. Estou aqui para lhe guiar.
— Não está fazendo um bom trabalho.
— Se você parasse de falar um pouco, de tentar ter tudo de graça, talvez percebesse que estou lhe dando mais do que posso e, com certeza, mais do que tive.
- - -
— Por que eu vivo?
— Ah, mais uma pergunta que acham ser a certa.
— De novo? Não entendo. Estou procurando a pergunta certa há eras, mas todas as que faço estão erradas. Existe mesmo uma pergunta certa?
— Tem que existir.
- - -
— Por quê?
— Hm?
— Por quê? Essa é a pergunta certa, não é?
— Por que você acha isso?
— É para isso que vivemos, não é? Para encontrar as respostas dos porquês.
— Você acha isso?
— Sim.
— Acha que descobriu a pergunta certa?
— Sim.
— Tem certeza?
— Sim!
— Então a pergunta não é a certa.
— O quê? Como assim? Por quê?
— Porque você a usa demais.
- - -
— Pode me dar uma ajuda?
— Claro. É para isso que estou aqui.
— A pergunta certa... como ela é?
— Uma pergunta.
— Sim, mas ela é uma pergunta comum? É uma pergunta que ninguém faz? É uma pergunta única? Como ela é?
— Bem... ela é interessante.
— O que seria uma pergunta interessante?
— É uma pergunta que lhe interessa.
— Hm, então cada um tem uma pergunta certa diferente?
— É por isso que ela é interessante...
- - -
— Estava pensando.
— Sim?
— Por que os outros não estão atrás da pergunta certa também?
— Eles não se preocupam com ela.
— Por quê?
— Por que você acha?
— Não sei.
— Pense um pouco.
— Talvez porque estão preocupados demais com suas vidas?
— Se estivessem, estariam atrás da pergunta certa, não acha?
- - -
— Estou desistindo.
— Por quê?
— Não vou encontrar a pergunta. Não sei do que ela se trata.
— De tudo... e nada ao mesmo tempo.
— Mas como? Como uma pergunta pode se tratar de tudo e nada ao mesmo tempo? Que pergunta é essa?
— Uma que você não fez, e nunca fará.
— Então como vou saber qual é?
— Você não precisa perguntá-la para entendê-la.
— Então eu não tenho que descobrir qual é?
— Por que você acha isso?
— Porque eu só tenho que entendê-la.
— Mas por que só tem que entendê-la?
— Porque é para isso que ela existe. Para ser entendida e não dita.
— Está chegando perto.
— Estou? Mesmo? Estou no caminho?
— A cada pergunta que faz...
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— Acho que entendi.
— Mesmo?
— Sim.
— E o que vai fazer com ela?
— Respondê-la da melhor forma que eu conseguir.
— Acha que consegue respondê-la por completo?
— Nunca. Talvez os próximos consigam. Talvez...