Boa noite
Sentia o vento muito forte em meu rosto e minhas mãos não bastavam para contê-lo. Eu a via do meu lado e única coisa que eu realmente queria era que se calasse.
Perguntava incessantemente o que eu fazia ali, que estava chovendo e não era um lugar descente para uma garota.
Minha mente zunia, mas eu não podia responder, não agora, seria perigoso demais
Sacudi a cabeça como quem espanta maus pensamentos e segui em frente
Ela vinha atrás, dessa vez rindo e dizendo que eu não seria capaz, então, pra que pegar um resfriado a toa? Tinha aula amanhã e uma prova importante, mas claro, eu sempre fazia a coisa errada.
Apesar do frio e da chuva, os olhos dela era quentes e confesso que reconfortantes. Se ela não me irritasse tanto, não me importaria de tê-la por perto, mas é que... Você não entenderia, talvez ninguém tivesse feito isso com você, digo, o que ela fez comigo.
Já estávamos chegando, duas quadras apenas. Preferi não vir de carro, chamaria muita atenção, mas confesso que me arrependo um pouco agora
Ela reclamou que apertei muito a corda, respondi com um puxão, ela iria estragar tudo se continuasse falando.
Eles me disseram que isso resolveria, me entendem e concordam que pessoas como ela não poderiam existir. Eu me convencia mais a cada minuto e pela primeira vez vi medo naqueles olhos quentes
Entramos, estava silencioso, apenas nós duas.
Ela dizia que tudo bem, que não me achava um fracasso e eu entendi aquilo como um apelo. Fiquei feliz, sinal que daria certo.
Amarrei ela sentada, para que não cansasse, decidi que seria rápido, já havia me despedido. Ela chorava enquanto eu pegava a arma. Atirei. Boa noite, ela disse.
Me chamaram suicida depois disso, nunca me entenderiam. Sobrevivi e poderia, enfim, viver, agora que ela jazia morta dentro de mim