Encruzilhada
Quando Custódio chegou ao Lajedo, era por volta das oito horas da noite. Ainda passou na casa do seu Luís Paulino. Tomou uma xícara de café quente feita pela dona Maria. Falaram um pouco de política e outros assuntos até que decidiu ir embora.
__ Durma, Custódio! Deixe para ir amanhã, homem! Você não tem medo das almas, não!?
__ E alma lá faz mal a ninguém, seu Luís! Eu tenho medo é de gente viva, gente ruim.
__ Está certo, mas as pessoas contam que nesse caminho até a Chã dos Vianas aparece assombração, você nunca viu não?
__ Já passei por este caminho que já perdi até as contas.
__ Pois vá com Deus, que ele lhe dê força e coragem para você atravessar o seu caminho em paz.
__ Até mais ver, seu Luís. Obrigado pelo café, boa noite.
Custódio pegou o mesmo caminho que sempre percorreu, mas dessa vez ia um pouco apreensivo, quase que aceitou a dormida, só não fez isso, porque tinha deixado a mulher e os filhos em casa.
Pelo caminho começou a sentir um medo bobo, mas achou besteira, sabia que não tinha nada pelo caminho, pois já era acostumado a andar por ali. Perto do cemitério que tem na comunidade ele começou a sentir uns arrepios, uns calafrios pelo corpo. Este cemitério era totalmente desconhecido, porque as pessoas que foram enterradas lá, não eram moradores da comunidade. Quando os moradores chegaram lá o cemitério já existia. A trilha que Custódio seguia passava bem do lado das covas, pois o cemitério era a céu aberto, totalmente abandonado.
Quando Custódio chegou ao cemitério, ele empacou igualmente burro brabo, não conseguia ir adiante, ficou paralisado pelo o medo. E começou a pensar “Ora mais que medo besta, sô! Será que foi a conversa do velho Luís que está me deixando assim”. Parado feito estátua no meio do caminho, pensativo, quis voltar, mas lembrou-se mais uma vez da sua família. Tomou coragem e seguiu. Nunca tinha passado pelo cemitério com tanto medo como daquela vez.
Alguns metros adiante, depois de deixar o cemitério para trás, o homem recupera suas forças e segue tranquilamente o seu caminho, mal sabendo que o pior ainda estava pela frente. Pois é, meus caros leitores, o medo que o pobre Custódio sentiu foi só um prenúncio do que ele ia enfrentar. E você está preparado para prosseguir, então vamos lá.
Depois do cemitério clandestino e abandonado o pobre homem ainda ia ter que passar pelo local mais assustador do caminho, a velha e enigmática encruzilhada. Perto do local o homem já começou a mudar de figura ao ouvir os piados do rasga mortalha e dos caburés da meia noite. Um vento gélido soprava seu corpo descamisado, pois o mesmo trazia sua camisa ao ombro, ao sentir o frio, rapidamente se vestiu, aproveitou para acender o seu cigarro de fumo leão enrolado na palha de milho e começou a tremer sem querer. E logo pensou “Que diacho de tremelique é esse meu Deus! Será fraqueza, que diacho é que tem nesse caminho hoje, nunca tinha passado uns aperreios desses”. O que trouxe de súbito, Custódio, a realidade foi uns assovios que o mesmo ouviu nas suas costas. “Que diacho é isso, menino, agora deu mesmo!”
Quanto mais Custódio se aproximava da encruzilhada, mais os assovios aumentavam de intensidade, até que Custódio ficou de cu trancado, quando percebeu que os assovios não estavam mais atrás dele, mas agora à sua frente. “Valei-me minha nossa Senhora da Conceição, que diabo de maimota é essa!” Custódio seguia lentamente o seu caminho, o corpo pesava uma tonelada, os passos mal saiam do lugar, até que ele se pôs no meio da encruzilhada. Um vento forte toma conta de si e ele se ver no meio daquele redemoinho e nessa hora ele se lembrou da pergunta de seu Luís... “Você não tem medo de almas, não?”
Imediatamente ele cai de joelhos no meio da encruzilhada e diz bem alto, “Eu acredito mais em Deus!”, que assustou até a raposas que tinham por perto e ele se lembra das recomendações do velho “Pois vá com Deus”, e todo o medo que ele sentia cessa, levanta-se e segue o seu caminho tranquilamente.
Quando alguém, hoje, pergunta se ele tem medo de alma ele diz:
__ Eu acredito mais em Deus!
Pedro Barros.