O tesouro perdido
O desejo foi a razão de sua deserção, o tesouro perdido, só ele sabia, fonte de cobiça. Largou seu status, sua honra, sua herança. Naquela ilha desenterraria riqueza maior, julgava ele, que qualquer bem precioso. Ouro, safira, rubi, diamantes; nada disso se comparava com a fortuna escondida daquela ilha.
Abandonou o navio, pegou um barquinho dele e fugiu, ouvindo os gritos dos tripulantes e os xingamentos do almirante. Mapa não precisava, pois era a sereia quem o guiava. Cauda azul, pele de peixe. Remando, um pouco mais forte, outrora mais lento, para a direita, depois para a esquerda. Cinco dias e cinco noites se passaram, mas no nascer do sol foi que viu: aquela linda ilha emergiu.
Alegria poética, corpo exausto, coração eufórico, não podiam lhe definir.
O almejo do humano sobrepôs as razões da vida. Nem lembrou-se de agradecer a criatura mística, foi de uma vez para a palmeira d'ouro, onde estava enterrado o tesouro. Cavou, cavou e cavou, à sombra daquelas áureas palmas. Nem sabia como conseguia fazer aquilo, forças não tinha, o desejo era o responsável por isso.
Encontrou, enfim, aquele baú, ornamentado e engalanado, mais lindo não existiu. A chave era feita de lágrimas, e das lágrimas derramadas de alegria ela foi banhada, abriu-se. Toda a opulência da riqueza havia encontrado, mas de nada adiantaria, pois a sereia levara dali o pequeno barco...