COBRA CORAL

Ivonet acordou, não sabia quanto tempo ficara dormindo, estava no meio da aldeia tapeba, não tinha ninguém, só algumas miunças, ele estava no centro do terreiro, deitado em cima de uma esteira de palha, a seu lado tinha um arco e uma flecha, junto com um cocar de sementes vermelhas e pretas. Ao lado uma cabaça com algum líquido desconhecido dele, se estava ali era com certeza para ele beber, bebeu alguns goles, não sabia diferenciar se era ruim ou bom, por instantes se sentiu bem melhor, como se o cansaço nunca estivesse presente nele, olhou pra todos os lados, em cima da palmeira avistou uma arara azul, anunciava o seu despertar, um bando de avoantes sumiu como poeira na mata, ele se levantou, sentiu o cheiro de fumaça vindo de dentro de uma das ocas, notou que essa fumaça saía pela cumeeira e foi em direção a mesma, dentro ele avistou um velho índio, deveria ter mais de cem anos, estava sentado fumando um cachimbo imenso, cheio de penas, na sua frente tinha uma fogueira, em cima um tacho feito de barro, cozinhava ervas de todas as espécies, de repente o velho índio pegou uma cabacinha, encheu do caldo e deu pra ele, a princípio ele recusou dando dois passos para trás, o velho índio esticou mais ainda seu braço e ele finalmente aceitou, bebeu um gole grande, sua boca ficou dormente, ele não sabia mais o tanto que bebia, de repente estava voando, deixará a taba e plainava sobre a aldeia, ela era linda, na beira de um grande rio, cercada de árvores imensas para todos os lados, onde a vista alcançava era só mata, logo mais à frente tinha uma linda cachoeira, que de onde as águas caiam saíam de lá um lindo arco íris, desenhado na poeira de vapor d'água. Onde estavam todos? ele não via ninguém, nem um sinal de índio, nem um curumim sequer. Ele não sabe o tempo que ficou voando sobre a mata, e que durante o voo sentiu o cheiro de tudo, murici, piqui, jatobá, orvalho e urucum, viu vários animais, onças negras imensas dos olhos vermelhos, viados pulando na mata, bandos de jacuis, papagaios, jacarés e piranhas, avistou um boto rosa que pulava em cima da água brincando com ele, ele agarrou na barbatana do boto e mergulhou no rio, foi no fundo do mesmo, era todo coberto de ouro e prata, tinha uma mulher linda em um trono de pedras preciosas, ela tinha uma grande cauda em forma de rabo de peixe, de repente ela entra em uma imensa caverna e some, ele escuta o apito fino e suave como uma apetitosa melodia, ele volta e está ao lado do velho, pela primeira vez ele vê o velho índio sorrir, seus dentes eram brancos como pérolas e tinha o hálito cheiroso e gostoso de hortelã, o velho segurou na sua mão e saiu caminhando no rumo da saida da oca, chegou na porta em frente à aldeia, estavam todos lá, em um grande círculo, começou uma música e todos começaram à dança uma dança linda e maravilhosa. Aquela musica e a dança foi entrando em Ivonet, logo ele estava no meio do círculo, dançando rasteiro como uma cobra coral, entre os pés dos guerreiros, ninguém tocava nela. Era como se ela fosse invisível.

COBRA CORAL.

FRED COELHO/2018

Fred Coelho
Enviado por Fred Coelho em 12/06/2019
Código do texto: T6670949
Classificação de conteúdo: seguro