O LIVRO

João Alfredo Feitosa, Alfredinho como era conhecido nas bandas do lugarejo de cajazeiras, distrito do Cangati, município de Mombaça, filho de mãe separada, coisa que à época quase não existia, pois isso se passa nos anos sessenta, morava com seus sete irmãos em uma pequena casinha cedida por seu tio, um próspero fazendeiro, que não negou asilo a sua irmã, quando soube dos destemperos do cunhado, lá pras bandas do Piauí, bêbado e batendo em sua irmã quase que diariamente. Quando foi buscar sua irmã e seus filhos para morarem em suas terras, só não matou o famigerado cunhado por pedido da filha mais velha, achando que aquele estrupicio nem para morrer servia, coronel Pedro sorriu e guardou o trinta e oito, já engatilhado e mirando entre os olhos do maldito. Assim foi a vida dessa família, em uma casinha cedida pelo coronel, em um quarto ficava Carmelia com suas duas filhas, na sala dormia os outros cinco meninos, e tinha uma pequena cozinha e um fogão a lenha. Entre a sala e o quarto uma máquina de costura, onde Carmelia costurava e sustentava os filhos, quando faltava alguma coisa o coronel sempre ajudava. Logo os meninos foram se adaptando a vida na fazenda e ajudando sua mãe. Eles viraram em curto espaço de tempo exímios caçadores, e também dominavam à arte da pesca, coisa que rendia sempre o tempero do almoço e do jantar.Somente Alfredinho não se adaptava aquela vida, não matava passarinho, não caçava tatu e não pescava, muito pelo contrário, ele cuidava de passarinhos doentes e soltava os peixes quando pegava um, dizia que eles eram filhos de Deus, coisa que seu irmão Teixeira logo dizia, filho de Deus é minha barriga com fome, e ou outros caíam em gargalhadas. Logo Alfredinho virou motivo de chacota entre seus irmãos, coisa que rendeu muitas chibatadas por sua mãe, pois ela não queria que o filho fosse tratado daquele jeito pelos irmãos. Certa feita, o Coronel ia viajar e foi na casa da irmã, falar com ela, saber como andava as coisa, e dizer que ia ficar fora por quinze dias fora, aproveitou a oportunidade e perguntou à todos em casa o que queriam de presente, uma queria um vestido, a outra um sapato, o outro uma espingarda de soco, outra linhas e anzois, outro uma tarafa, o outro uma baladeira, e por último Alfredo, que decepcionando todos pediu um livro. Um livro? Gritou o coronel, mais você não sabe nem lê? Pra que você quer um livro? Faça como seus irmãos, peça algo que lhes seja útil! Mas o menino ficou irredutível e continuou com o pedido, eu quero um livro, por favor me traga um livro. Anos se passaram, muitos anos, o coronel já estava velhinho, todos os meninos já moravam em Fortaleza, com sua mãe, o coronel estava enterrado em um hospital, ia fazer uma cirurgia muito importante na coluna, só existia um médico no Brasil capaz de faze-la, e por sorte do coronel ele tinha acabado de chegar naquele dia dos Estados Unidos, onde trabalhava como diretor do maior hospital do mundo no tratamento de colunas cervicais. O coronel ficou sabendo da boa notícia, tomou banho bem cedo, ficou ansioso para conhecer o tal médico, quando deu nove horas ele entrou na sala, vinha de mãos dadas com uma mulher, o coronel observou mais perto e achou parecida com sua irmã, Carmelia. Ele cuidadosamente pergunta, - é Carmelia? - sou sim Pedro, beijando sua testa. - quem é esse rapaz? -é seu sobrinho, Alfredo, ele é o médico que vai lhes operar. Falou Carmelia. No canto do olho de Pedro saíram lágrimas, lagrimas de felicidades, e quanto importante foi aquele livro que ele tinha dado pro sobrinho.

Fred Coelho
Enviado por Fred Coelho em 18/03/2019
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