MERGULHADOR: A BUSCA PELO TESOURO cap 1
SUSTO E ALÍVIO
Em seu escritório, Heitor boceja e desliga a tela do computador. Dá uma pequena batida no monitor. Suspira. Abaixa a cabeça. Olha para as paredes. Estão repletas de fotos suas em naufrágios e jornais antigos com entrevistas de sobreviventes a naufrágios. Ele fixa o olhar em uma imagem à sua frente. É um desenho de um Galeão em tom azulado, nele escrito: Santa Rosa. Pode sentir seu mudar drasticamente. Está confiante. Chacoalha a garrafa de Red Bull e a ingere em um gole só.
Liga novamente o monitor e abaixa a cabeça. Levanta-se e acessa o site de busca. Digita: Naufrágio Santa Rosa Moedas. Aperta o "enter".
Suspira, novamente.
−Droga, a mesma coisa.
Fecha os olhos. Olha para o chão. Balança a cabeça, levanta-se e olha pela janela para fora de casa. Agora ouve uma voz sussurrante vinda de outro cômodo. Era sua esposa.
−Sara? Querida!
−Heitor – A voz dela está sonolenta, mas recheada de irritação. Heitor não sabe descrever aquela capacidade de Sara de lhe falar como se fosse uma mordida na orelha.
−Mas que diabos está fazendo que não está aqui comigo? –Ela prosseguia.
−Nada, amor. Apenas vim pesquisar um pouco. Já vou voltar a dormir.
Do lado de fora da janela Heitor vê seu barco atracado que, com o vento forte, bate com o seu bico contra o mastro de segurança da marina. Ele meneia a cabeça, vencido pelo sono e fecha a janela.
−Está bem aí, rapaz. Agora vou cuidar de mim para continuar nossa busca.
Heitor vai até o quarto do filho e lhe dá um beijo na testa.
−Boa noite, Kaleb. Dorme com Deus, filhão.
Deitado na cama, o adolescente abre os olhos. Estava reluzente.
−Boa noite, Heitor.
Com expressão de desânimo, Heitor olha Kaleb.
−V....você....ainda precisa se acostumar...
−A quê?
−A me chamar de pai.
Kaleb vira para a parede.
Heitor hesita e se afasta da cama, olhando o garoto.
−Sabe que independentemente de você ser adotado você é meu filho. Eu não diferencio isso, garotão.
O garoto se virou, bruscamente. Tem os olhos lacrimejando e olha a foto em uma prateleira lateral em que está a imagem dele no meio de Heitor e Sara. Ali todos sorriem, pensa Heitor. Todos menos Kaleb.
Ele vira de barriga para baixo e Heitor não entende o que está acontecendo na mente daquele menino. Apenas doze anos. Que fase!
Ele se aproxima de Kaleb, afaga o bracinho dele, cobrindo-o, em seguida. Então ocorre algo a Heitor.
−Eu te entendo, filho. Sei como é não conhecer o próprio pai. Eu também perdi o meu quando tinha doze anos. E minha mãe com quatorze.
Ele percebe que o garoto não se mexe mais. Então se afasta para a porta.
−Nós o encontraremos, filho.
Kaleb se vira. Novamente os brilhos nos olhos, eufórico.
−Então amanhã vou mergulhar com o senhor.
Heitor sorri e já está no corredor quando se despede.
−Até amanhã.
Heitor volta para o escritório, arfante. O protetor de tela está iluminando boa parte dos móveis do quarto. Senta-se e digita: "Naufrágio Santa Rosa Moedas". Marca a opção "vídeos".
Algumas páginas diferentes aparecem na tela.
Sorri. Expira, enquanto o vídeo é carregado.
Cinquenta, sessenta, setenta, oitenta...cem por cento. Os olhos grudados no monitor. A imagem de um homem e uma mulher em um telejornal. São os dois jornalistas que apresentam o telejornal local da tarde.
A jornalista anunciava:
−Na tarde de ontem, um garoto que mergulhava próximo às encostas da praia de Porto do Cabo fez uma descoberta incrível: achou uma moeda de ouro de 1726, brasileira, da era Colonial.
−Não acredito! Isso não pode ser divulgado!
Heitor soca a mesa.
−Droga!
Já não olha tão detidamente para a tela enquanto a jornalista continua.
−O garoto foi procurado pela reportagem, mas não quis gravar entrevista.
−Isso mesmo. Bom garoto.
Ele se levanta. Bate com o dedo três vezes numa marcação específica que fica no meio da agenda.
−Te achei. É aqui mesmo!
E fechou a agenda, apagou a luz e foi para o quarto tentar dormir.