De Volta Para Casa
A rua já não era mais a mesma, os pedregulhos que haviam foram substituidos por um cimento de formato redondo, ao caminhar senti a diferença. Um olhar atento para a vizinhança, quem sabe os antigos ainda estivessem ali, mas eu já não conhecia ninguém e eles me olhavam como um estranho, um estrangeiro, como se estivesse ali a espreitar a vida pacata que levavam. Chegando perto da casa, senti meu coração palpitar forte, já fazia anos que parti sem minha vontade e relutei tempos para ao menos fazer uma visita, pois seria muito doloroso voltar apenas a passeio.
E eu estava ali, de frente a ela, a casa onde passei toda infância, e em minha memória pueril, onde passei a melhor época de minha vida, a cor que era branca, agora era pintada de um verde sem graça, o portão de ferro preto foi trocado por um pequeno muro, os moradores não estavam ali, senti inveja deles, será que sabiam que amei tanto esse lugar? que em meus sonhos ainda moro ali? Olhei para a janela do meu antigo quarto e fui dominado por um ciúme patético que eu mesmo ri de mim, avistei o quarto de meu pai e foi como se eu tivesse vendo ele debruçado na janela como sempre ficava. Sentei perto do portão acendi um cigarro e fiquei lembrando de alguns momentos, a casa de meu melhor amigo de infância, já não existia mais, as árvores das quais eu me pendurava estavam devastadas com um aspecto triste, fechei os olhos e imaginei com frutos e folhas de cores vivas, ouvi risos e gritos de crianças brincando, música alta e de repente senti algo em minha perna, até pensei ser meu gato amarelo Mimi do qual adorava, mas não...era apenas o vento do entardecer.
Senti um nó na garganta e uma demasiada vontade de chorar, fui tomado pela ilusão de que o tempo foi congelado, já não havia mais sentido ali para mim, não tinha mais cor, mais vida, levantei e fui embora sem me despedir do lugar que tanto fui feliz...ou será fui mesmo?