(Re)encontro
Eu tinha cerca de 12 anos quando senti aquele cheiro pela primeira vez. Estava em uma repartição pública com minha mãe, que resolvia alguma burocracia da vida adulta. Não lembro do seu rosto ou da sua voz, nem mesmo como ele surgiu no mesmo ambiente que eu. Mas, lembro do cheiro. Um cheiro de fumaça canforada, densa, que me invadiu com uma sensação de segurança, paz e felicidade. Uma onda de calma e amor percorrendo todo meu corpo, me dando certeza que eu não estava sozinha.
Esse momento da minha vida surgiu hoje nos meus pensamentos. Tenho estado sozinha ultimamente. Tenho grandes amigos, mas não tenho um grande amor. Tenho um bom trabalho, minha vida é tranquila, mas nunca tive sorte nos relacionamentos amorosos.
Me forcei a sair de casa, ir tomar um café e procurar um livro para ler nos próximos dias. Estava de cabeça baixa na livraria folheando um livro de poesias quando senti aquele cheiro novamente. Dessa vez, mesmo com toda sensação de paz, o nervosismo também invadiu meu coração. Num movimento súbito, levantei a cabeça e me virei na tentativa de saber de onde vinha o cheiro. Foi quando esbarrei nele. Eu sabia que era ele. Nossos olhos se encontraram e ficamos em silêncio por um tempo que pareceu uma eternidade. Meu coração batia num ritmo frenético de tão nervosa que fiquei ao ver aqueles olhos de jabuticaba, cheios de vida.
Ele sorriu e pediu desculpas pelo esbarrão. Então perguntou: - A gente se conhece? Você é familiar.
- Acho que não. – Respondi, com a voz falhando.
- Bem, podemos resolver isso. Frederico. - Falou, esticando a mão para me cumprimentar.
- Liliam, mas pode me chamar de Lily.
Então percebi seu olhar de espanto. Ele ficou pálido por alguns segundos e tive medo que ele saísse correndo.
- Lírio?
- É o significado do meu nome e minha flor favorita. - Respondi com um sorriso nervoso.
Ele sorriu emocionado e falou: - Desculpe, não quero te assustar, mas será que você aceitaria tomar um café comigo e conversar? Pode parecer loucura, mas eu sonho quase todas as noites com um campo de lírios. - Então virou seu braço, exibindo uma pequena tatuagem de dois lírios com traços delicados.
Meu coração foi tomado novamente por paz e segurança. Aquela sensação de que eu não estava sozinha. Sorri e disse: - É claro, eu adoro café.
Ficamos um momento nos olhando e rindo. E, diante daquele olhar amoroso, eu tive certeza que tinha reencontrado meu porto-seguro.