UM DOMINGO IGUAL A OUTROS (seriado 5)
A juventude daquela comunidade Presbiteriana vivia intensamente em termos de relacionamentos!...
Não era como se vive nos dias atuais, onde cada um fica no seu celular, no seu mundinho e não se relaciona com ninguém!...
Isso pode ser chamado de vida solitária na multidão!... Alguns até que se relacionam, estes podem ser considerados como os vitoriosos e sábios de uma multidão perdida em si mesma!...
Naquela comunidade todos se confundíam e se relacionávam porque eram parte de um grupo de gente comprometida!
Ninguém queria ser um perdido na multidão, a pratica de valorizar uns aos outros era algo de sua instrução de sempre. Estudávam a bíblia, e praticar seus ensinos era coisa séria, ainda que fossem jovens como qualquer um outro com suas paixões, desejos e pretensões,
entretanto observávam seus limites!...
Não metíam os pés pelas mãos de forma inconsequente e isso era um valor para cada um, mas isso não quer dizer que não cometíam erros, pecados e alguns deslizes!...
Alguns do grupo éram líderes e referência para muitos, sendo alguns mais jovens e outros até mais velhos do que esses!... Ninguém tinha como meta ser padrão ou modelo pra ninguém, mas seguir o padrão de Cristo e aplicar em sua vida para seu proprio bem!...
Habitualmente após os trabalhos sérios da semana, ficávam no pateo ou nas salas conversando em grupinhos informais sobre as coisas mais diversas da vida, outros ficavam jogando tênis de mesa, xadrez, damas, ou outros jogos de mesa e alguns se espalhavam pelo salão em grupos ou em pares se distraindo ou se interagindo e comunicando uns com os outros. A igreja e suas dependências eram lugares prazerosos para aqueles jovens, era onde viviam sua juventude intensamente.
Aos domingos isso não acontecia normalmente, pois quando tudo terminava íam para a casa de alguém para o encontro de amizade daquela semana. Até chegar lá, poderíam desfrutar da companhia de alguém de seu interesse ou de proprio cotidiano amistoso, caminhando a pé pelas ruas na noite em um bate papo a sós ou mesmo acompanhados por terceiros, isso era muito legal!...
Era quando tínham a liberdade para galanteios, elogios, ouvir alguém que passava por alguma dificuldade, confidências, desabafos e também para se soltarem abstraidos de suas tensões do dia a dia. Quantas boas companhias aconteceram nessas caminhadas.
Esse era mais um daqueles domingos iguais de sempre.
Eli estava caminhando e conversando com a Nathie e mais uma outra jovem do lado dela!.. E a certa altura da caminhada Marcinha se juntou a eles e ficou do lado de Eli, a Nathie como não perdia um lance falou:
- Não aguentou ficar longe bem?...
- Hêê!... Cê tá entendendo errado... É que eu preciso falar com você!!! (Falou Marcinha)
- Fala meu amor!... despeja!.. (Disse a Nathie).
- É o seguinte... (Ela passou pro lado da Nathie e sussurrou). - Não veio mesmo hein??!),
Estava se referindo ao Heleno que nao tinha pararecido por lá naquela semana.
- Vou cantar uma musica pra você Marcianha:
- "Deixe de ser triste assim esqueça o que passou....carinha de tristeza não lhe fica bem".. (Nathie brincou cantando pra ela).
Pelo que eu pude entender ela estava se referindo ao Osias!... Que não tinha voltado e nem vindo naquele domingo!
(Falei com ela):
- Marcinha tenho uma musica pra você também: "Esta é a canção de quem tristeza.... Não tem... não!.... Que vive alegre nunca está está entregue a dor de uma paixão!.". (Cantarolei para ela).
Ela sorriu e cantou o restante da música!...
"que odeia as guerras e no entanto as belezas do céu e da terra vive a contemplar!... E que deseja que você também seja, feliz toda vida e o convida a cantar: Vem! vem, vem cantar..."
Nesse instante, se aproximou de nós um dos nossos jovens violonistas que veio cantando a mesma música e todos repetimos a musica, umas duas vezes ou mais, todos gostávamos dessa musica!... Fomos cantando pela rua a fora mesmo!... Éramos tão livres em nós mesmos, que não sofriamos a pressão do sentimento de mico popular, tão opressivo às vezes!...
Eu refleti muito sobre o envolvimento da Marcia com o Osias e pensei comigo, que seria melhor eu não alimentar interesses por ela, pois a coisa era mais seria do que eu pensava!... Triste pra mim ver desse modo, mas era melhor não alimentar ilusões!...
Estava me recuperando de um desgastante relacionamento e não seria assim que eu me recuperaria das minhas dores e desilusões.
Em fim chegamos na casa onde seria nosso encontro!... Fomos recebidos direto numa área grande, um varandão nos fundos da casa porque a sala era pequena!... Era aniversário de alguém da família, pensamos inicialmente que fosse de um dos rapazes mas não, era uma das meninas da família que tinha uma admiração muito grande pelo nosso grupo de jovens dessa época, até dizia que tinha vontade crescer pra ser do grupo de jovens, porque cantavam muito bonito e alegravam o ambiente!... Então os pais dela, encomendaram um bolo bem grande pra ela dividir com todos!...
Depois que cantamos algumas músicas e alguém fez uma pequena meditação, coisa
de uns cinco minutos, cantamos o parabéns e fomos comer o bolo!...
Eu estava meio tristonho naquele momento, peguei meu pratinho e me assentei sozinho num banquinho num canto da varanda. Enquanto eu comia meu bolo com refrigerante a Márcia pegou um banquinho e se assentou perto de mim pra comer seu bolo também!... Ela estava calada e eu também!... Ela olhou pra mim e perguntou:
- Você está triste?....
- Mais ou menos!... Por quê? ( Lhe falei).
- Estou achando, você diferente do que você é sempre!...
- São as desilusões da vida!... Todo dia, a gente tem alguma!...(Falei)
- Então coma meu bolo! (ela disse) e me dá o seu!... (pelo menos você está perto)!... assim eu divido minha tristeza com você e você pode dividir a sua comigo!.... Se você quiser!...
- Eu lhe dei meu bolo e peguei o dela!... Acabei me emocionando perto dela ( e lhe pedi desculpas)
( Ela falou)
- Nada haver!... E obrigada por você aceitar meu pedaço de bolo, com dor hoje!... Mas um dia, quem sabe, dividirei com você um cheio de alegria!...
- Com certeza, espero que isso um dia seja verdade!... Falei para ela com olhar terno!
- Eu espero também!... (Ela me respondeu meigamente).
Que vontade eu tive naquele momento de beija-la!... e abraça-la!...
Mas seria melhor não, eu poderia ser considerado um aproveitador!... Poderia estar me valendo de seu momento de fragilidade! Estária sendo um cafajeste!...
De repente a Bete chegou e quebrou o clima:
- ÔÔ!... Cêis dois vão ficar aí no cantinho toda vida???? Vão bora! Vão bora, vão bora!...
E fomos todos nos despedindo e saindo!...
Na rua a maioria de nós se despediu com um simples tchau, tchau!...
A Bete e a Marcia estavam comigo, então me despedi delas com um beijo mesmo na face!... O que não era de praxe!
A Bete, pelo olhar, estranhou a quebra da rotina, mas não disse nada, pelo menos pra mim!