Um ipê amarelo de testemunha

Uma, duas talvez a terceira volta.

Andando em circulos ela se mostrava impaciente, de volta em volta, parava meio segundo olhava a porta, imponente, alta e fechada, então lembrava-se do que vinha fazer, apertava as mãos uma na outra, sentia o suor das palmas, a falta de temperatura, havia suor escorrendo-lhe pelos cabelos desajeitados com a corrida até ali, de novo fitava o chão e dava mais uma volta.

Tão alto gritava o silêncio do corredor, que pareciam querer suprimir seu pequeno corpo que lutavam contra essa pressão para manter-se ereto, e outra volta, aos seus ouvidos as palavras mudas da mensagem pareciam sussurrar, ela lembrava da tela do telefone, da mensagem e até ouvia sua voz como se pudesse ver nitidamente ele dizendo aquilo, o calor parecia subir-lhe pelo corpo, da ponta dos pés até o topo da cabeça lentamente fazendo as extremidades dos braçõs formigarem, ela olhava de relance a porta de novo, ainda fechada nenhum som, o corredor vazio parecia mover o teto cada vez mais alto, a pouca luz alaranjada mudava a cor da porta de cinza para um avermelhado vivo, a vidraça ao fim do corredor mostrava o lmponente ipê amarelo que ultrapassado pela luz parecia empolgado em acompanhar o desfecho da situação, admirando a cena em silêncio poderia pensar "que será que aflige o coração da bela moça? São mesmo empolgantes esses humanos."

E de fato bela, ali ao encontro da luz do fim do dia, com o olhar perdido, olhos no chão, passos que freneticamente desenhavam circulos no chão, os cabelos pouco desajeitados pareciam ter um peso fora do normal, mais uma vez ela parou e encarou a porta, a porta a encarou de volta, ela esticou seu fino braço como se a quisesse alcançar, "devagar, mais um pouco, você esta indo bem" e de novo a mente se apresenta para brincar com sua determinação, lembrou-se do sorriso, do tom de voz gentil, e outra onda de calor começou a percorrer-lhe, o coração disparou, a respiração começava a ofegar, os olhos fecharam em vão tentando não ver o que a tela mental mostrava, e com os olhos ainda fechados, e pensando ainda estar louca num lapso de coragem ela decidi bater na porta.

Silêncio, nada do tão esperado toc-toc, "tenho certeza que bati, como pode ser? vou tentar de novo!" e o silêncio continuava, quando abriu os olhos, a imagem da porta fechada tinha se desfeito ali estava ele, olhando, em silêncio com um saco de lixo na mão, a camisa larga, o sorriso pasmo.

- Você chegou cedo, ainda nem coloquei a mesa! Entra eu vou colocar isso la fora, me espera um minuto?

Paralisada, com a mão ainda contra o torax dele e o coração explodindo, o rosto quente, as pernas dormentes.

-Sim claro, eu espero. Um sorriso sem jeito deixava ela ainda mais nervosa. "Caramba ele esta tão lindo."

45 Minutos antes:

Salgadinho, refrigerante e a frase: estou com preguiça de cozinhar!

A foto estava meio escura, mas era concerteza um edredom sustentando a vasilha, " ela vai comer só isso? Eu podia fazer comida pra ela, ela aceitaria? Mas e se eu convidasse pra comer fora? Mas ela parece confortavel em casa, é ruim chamar ela pra cá? Eu to ficando doido, porque ela ia querer vir aqui? "

Abre o chat, encara a tela, começa a digitar e apaga, "isso não. Já sei! Não também é ruim. E se eu ? Pessima ideia. "

celular cai e envia um "Oi".

"Deus do céu ! O que eu faço!? Apaga, apaga logo. "

- Oi tudo bem ? Como ta indo sua sexta ?

"Respondeu? Ela respondeu, Lembra dos conselhos do seus amigos e vai dar tudo certo!"

amigo inseguro - Cara se você gosta dela, não pode se mostrar dísponivel ou ela vai pisar em você, fazer você de tapete, posta umas fotos com umas gúrias, bebendo e gastando dinheiro, as gatas gostam disso.

- o que sério ? Mas nem eu gosto disso.

amigo dependente - Que nada ver, se você gosta dela, fala pra ela que ela é tipo a afrodite na terra, mesmo se achar que não, lambe o chão que ela pisar e ela vai te dar moral, se fizer tudo que ela quer, do jeito que ela quer, se você se esforçar pra dar tudo de si pra ela concerteza ela vai amar você.

- Que mas como assim, e minha vida? Meus conceitos, não da pra fazer isso não cara.

"Os conselhos deles são muito ruins, eu vou fazer o que eu gostaria de fazer, e ver o que acontece."

Digita:

Eu tava fazendo janta na verdade, você ta afim ? Eu vi que você ta preguiça de cozinhar.

"Envio? Ou será que não? O maximo que pode acontecer é ela dizer não, e enviado, seja o que ela disser"

Digitando...

"Meu deus o que eu disse? Eu devia apagar? E se ela me achar ruim? E se ela me usar de tapete? E se ela não gostar da minha comida? Será que foi muito cedo? Eu vou dizer que era brincadeira.

- Claro as 18h? Eu passo ai. <3

"Ela vem ? Ela vem mesmo? Como assim, caramba, eu tenho que me arrumar, e a comida? O que eu cozinho? Do que será que ela gosta? Vou fazer macarrão, já vi nos stories que ela gosta, e a casa é melhor limpar? Meu deus e meu cabelo?Melhor fazer a barba? "

A janela da sala denunciava a cena ao ipê amarelo que via em silêncio toda a sua empolgação, seus pulinhos no lugar e a pressa para limpar e arrumar tudo, e depois cozinhar, testando receitas e cantando enquanto cozinha. Ah esses humanos realmente são empolgantes.

40 minutos depois.

"Beleza falta trocar de camisa, levar o lixo e por a mesa, que horas já são? 18h10, ela vai chegar a qualquer momento, eu tenho que correr." Abri a porta e "Ela tá aqui? Como assim ela já ta aqui? Eu nem mudei de roupa, ela ta, ela ta me batendo? Mas pera quê? Ela não ta me vendo? Ela ta vermelha? Caramba ela esta tão linda."

Algumas vezes o melhor conselheiro para sua vida é você mesmo. Não meça sua felicidade na régua de outros.