fruto de umas conversas e daquela noite do vinho

Me senti perdendo o controle. Não me sentia eu mesmo já há um tempo. Palavras fluíam da minha boca como se não fosse eu quem as proferisse, simplesmente saíam, eu flutuava de fora apenas observando. Queria mais daquilo, mais dela. Não sentia minhas mãos, meu rosto, parecia bêbado. Era isso, parecia bêbado. Quando estava com ela, apenas sentia seu pulsar, seu corpo estranhamente quente perto do meu, queria toca-la. Toda essa sensação, esses sentimentos, eu não reconhecia. Essa pessoa que me tornava, cada dia um pouco mais, não me sentia pertencente a mim mesmo. Me sentia me perdendo de mim e sendo encontrado por ela. Era uma boa sensação, como aliviar o peso de ser quem eu era, aquele denso, triste, com ela não. Com ela era leve. Eu ficava leve.

“toma um chocolate”, como quem ordena carinhosamente.

Peguei de sua mão, querendo pegar sua mão. Esse gesto me fez a ama-la e deseja ainda mais, irracionalmente. Olhei para ela, observei seus movimentos, me percebi imitando-os. Não li em algum lugar que pessoas apaixonadas imitam os gestos de seus objetos de amor? Talvez eu amasse tanto ela que quisesse me fundir, ter mais e mais dela no meu ser, ser ela. Objeto de amor, desejo, obsessão. De loucura a gente entendia, a gente compartilhava, a gente se entendia. Intimidade, como eu não tinha com ninguém. Eu me via nela, queria ela, mas não queria a mim; ou talvez quisesse, mas uma outra versão de mim, só não sabia como acessar a não ser através dela.

Eu sinto muito.

L Dias
Enviado por L Dias em 04/07/2022
Código do texto: T7552329
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