O MEL DO TEU OLHAR
‘Bom dia, abelhinha da minha flor, encantamento da minha rotina, meu perfume em forma de amor. Era assim que te acordava todos os dias, com delicadeza te despertava para um novo dia, tu me abrias o mel do olhar com um sorriso bocejante, te espreguiçando espalhando os lençóis...’
A noite foi barulhenta como sempre, pois depois que os teus cabelos ficaram bem brancos e a minha calvície tão presente, os meus roncos sonoros são a nossa trilha sonora noturna. Não que eu tenha ouvido de ti quaisquer reclamações, pois o tempo tornou o teu sono pesado e em conchinha tudo ficava bom.
Não sei como explicar ou lembrar de como tudo começou, mas, o teu olhar de mel parece fazer parte da minha vida inteira. Sei do afago carinhoso nas tardes frias, da chávena perfumada quando a noitinha chega, da conversa longa em voz cálida antes da conchinha e das lembranças da inquietude dos tempos joviais amadurecentes. Eu, roubava flores dos jardins já na infanta idade, só para te assistir despetalando cada uma delas, demorei tanto tempo para perceber que não gostavas de flores colhidas, pois perdiam a vida, tolo como sou até hoje, por décadas flores lindas te ofereci.
Adolescentes, mergulhávamos em rios, cachoeiras, praias e pulávamos poças de chuva. Ah! Como era bom dançar na chuva com você, bagunçar os teus cabelos cacheados e te beijar toda molhadinha. Quando o prazer carnal conhecemos, foi mágico, me recordo do brilho que ganhou o mel do teu olhar, um tom de âmbar incrível, me lambuzei até quase desmaiar. A juventude passou bem rápido, nos casamos cedo e logo família constituímos, os filhos cresceram e ganharam asas, mas, os preparamos para a vida e as visitas ainda são frequentes, ai deles se nos deixarem longe dos netinhos rssss...
As bodas de ouro foram marcantes, renovar os votos de amor e união que nunca perdemos, foi apenas um ato, onde pude me deliciar com a tua entrada na paróquia, linda vestida de mel tal qual o mesmo olhar, que num dia infante e casto me apaixonei. Foi a melhor visão do mundo, claro que emotivo, chorei.
Hoje ainda ativos beirando os oitenta...nem sei bem...acho que sim...tanto faz, agradecemos ao Deus Pai, tantas bênçãos, mesmo que no decorrer da caminhada tenhamos tropeçado, levantamos juntos, que tenhamos errado, corrigimos juntos, porque a quantidade de alegrias, fossem pequeninas ou gigantes foram e são muito maiores.
Ficarei contigo meu amor, até o mel dos teus olhos escurecer ou até que a minha memória se apague de vez, mas, em nossas lendas existirão sempre os elos da corrente de amor que juntos ou pelo tempo separados, hão de nos fortalecer. Mel dos meus encantos, luar do meu Sol, perfume de flor plantada, minha consistência e teor, amor pra vida inteira, minha mulher amada.
* Imagem de br.pinterest.com