TAMPA DE PANELA
Quando Luna encontrou a tampa de sua panela, a idade já ia pelas tantas, mas, a vida ainda fervia perfumosa dentro dela. Toda massa merece recheio, embora com ele venham temperos ácidos, adocicados, ardentes, aguados e às vezes, é preciso buscar alguma coisa para a textura não desandar.
Todos os seus dias depois deste encontro, foram aromatizados e iluminados de amor, a convivência não era perfeita, mas, nada é perfeito caso contrário o tédio de um mesmo sabor, sucumbiria à rotina. As suas noites eram pudins de ovos nevados ou burritos ferventes, sonhos bem casados ou apenas poesias nos olhares.
As lembranças de ambas histórias amaciavam seus músculos pulsantes, colocavam sorrisos cálidos em seus pulmões. Cozinhas de vida diferentes, que se conjugaram como um verbo no presente do indicativo. Os idos dos anos não diminuíam a vibração, a felicidade de poder aproveitar a vida juntos, um dia de cada vez, abrindo e fechando a panela das emoções, provando com avidez tudo o que se apresentava, não pensando no depois. Os passados já estavam guardados, o amanhã poderia ser somente o hoje, então, viviam!
Alguns anos depois, impetuosas e inesperadas águas doces, colocaram um fim terreno no inspirador fogo de chão. Foram juntos...o churrasco mal passado e saboroso virou cinzas, deixaram saudades sem lágrimas, desejo mútuo. Os seus temperos agora secos, com a ajuda do vento, foram hidratados pelo mar.......sal da vida.
* Imagem de pontofrio.com.br