Laços de Amor

A festa dos quinze anos da Elisa foi um espetáculo, a decoração do salão preta e dourada, um clássico que nunca sai de moda contrastava com o bom gosto do tom rosa escolhido para o lindíssimo vestido de debutante. O bolo e os doces deslumbrantes, a valsa dançada com o querido padrasto impecável, a dança e a tradicional foto com as amigas na mais perfeita alegria e para aumentar a saudade que a festa deixaria lembrancinhas variadas com bonés, garrafinhas “Drink Me”, chaveiros, enfim tudo muito legal.

Na noite após a festa, Elisa sonha com uma música ao piano, à noite toda, música a qual ela conhecia, porém não recordava o nome, na noite seguinte o sonho se repetiu, de manhã ela acessa a internet e verifica o nome da música, Für Elise de Beethoven.

Na noite subsequente o sonho se repete com uma realidade impactante, Elisa acordou assustada e não consegue mais dormir, está impressionada com os sonhos, não entende a sua origem ou significado deles, preocupada procura a mãe pela manhã.

Quando a filha começou a descrever os sonhos a mãe empalidece, uma lágrima silenciosa serpenteou o seu rosto como um rio amargo em busca de perdão, ela abraça Elisa e explica que se esqueceu de dar a ela um presente de aniversário guardado há muito tempo, deixado pelo seu falecido pai. A filha se surpreende e não vê relação entre o presente esquecido involuntariamente e os sonhos, emocionada a mãe pede para a filha ir para o quarto e aguardar lá enquanto ela pega o presente esquecido no cofre.

Instantes depois a mãe entra no quarto da filha e lhe entrega uma caixa de madeira trabalhada, dentro um anel, um CD e uma pequena carta, Elisa a lê: “Filha um dia do nada senti um sintoma um sinal e a suspeita do mal, consulta inevitável e a verdade inaceitável desvelou-se sobre a minha vida; diagnóstico esclarecido, o mal estava bem estabelecido e um futuro de três a seis meses no máximo descortinou-se sobre mim. Hoje você tem um ano, quando ler estas linhas quinze anos e não se lembrará mais do papai, por isso te deixo esta recordação nesta data tão especial.

O meu pai filha me deu raízes profundas, depois me deu asas para voar, quando perdi o rumo me ensinou a olhar para frente, deixando as sombras caírem inofensivas atrás de mim.

Quando perdi o prumo me ensinou a equilibrar no fio da navalha e quando perdi o chão me ensinou levitar soberano na vida e nada disso vou poder fazer por ti, mas a mamãe vai então eu me consolo e lamento não poder estar com você.

Além desta cartinha e do meu amor te deixo um anel pelos quinze anos e um CD, nele eu gravei uma música que sempre toquei para você ao piano, lá na sala é claro que você não se lembra nada disso. Mas você adorava Elisa, como sorria ao ouvi-la quando eu parava você chorava, é uma música muito antiga, o seu nome em alemão Für Elise, traduzindo Para Elisa, composta pelo Beethoven em 1810.

O papai se foi para sempre é a vida e se você esquecer o papai de novo, só uma coisa, esquece bem devagarinho.”

Depois da leitura emocionada da carta pela filha, os sonhos jamais se repetiram.

Midu Gorini