A garota na ponte
Havia uma garota sentada à beira da ponte
olhando para baixo
Ela fintava a morte.
lágrimas escorriam dos seus olhos como um rio
eu me aproximei
Ela virou o rosto para me olhar
e o seu olhar escondia uma escuridão profunda.
Estiquei minha mão para limpar o seu rosto, e suas lágrimas pesavam, carregadas de lembranças tristes que se acumularam por tantos anos.
Ela me abraçou, me abraçou tão forte como se nunca mais fosse me soltar.
Suas lembranças inundaram o lugar, lembranças de épocas felizes,
em que ela sorria, dançava e pulava, então de repente uma lembrança surgiu no meio das boas lembranças
Um homem levantava a mão para ela
O olhar no semblante do homem era de raiva
E aquela lembrança passou a contaminar todas as outras lembranças
E as lembranças de alegria e sorrisos
Deram lugar a lembranças de dor e sofrimento
o ambiente se tornou escuro
Tomado pela escuridão que morava naquela garota
Eu a abracei fortemente
Encostei o corpo dela contra o meu
Como se fossemos um só
para que ela não se sentisse mais sozinha.
o coração dela batia na mesma batida do meu
Eu podia sentir ele desacelerando
E o ambiente uma vez tomado pela escuridão
surgia uma luz, que começava a partir dela
a lembrança do homem desaparecera
As lembranças das noites em que ela chorou na beira da cama continuavam ali
São lembranças que ela precisava levar consigo para evoluir.
A escuridão começava a sumir
Havia tanto e por muito tempo ela guardou tudo para si
mas ela não estava mais sozinha.
segurei ela pelos braços e a levantei
Enxuguei o rosto dela coberto de lágrimas
e saímos daquela ponte.
Hoje o rio não terá mais uma morte para carregar.