AMOR DIMINUTO
Vi uma coisa pequenina, quase invisível ao olho nu. Parecia uma gota d’água, que não entrava nem escorria, entre o rejunte de um dos azulejos do chão do banheiro. Percebi que tremulou.
Busquei os óculos. O que achava ser a gotícula de água, não era. Passei o dedo devagarinho. O bichinho esticou a perna que mais parecia um fiapo de arame muito fino e a escondeu de novo. Comparo-a a um arame fino, porque era firme, rija, ainda que diminuta, resistia à minha passada de dedo.
Estava intrigada.
Como poderia caber ali algo vivo, não conseguia ver o espaço de tão minúsculo.
Fiquei um tempão esperando, esquecida dos meus afazeres, e, volta e meia passava o dedo levemente e percebia um ir e vir da gota d’água.
Peguei uma agulha de crochê, fininha, sobre a cômoda e passei devagarinho no vão que achava que existia. Nele, a ponta da agulha também não entrava.
Passei-a de novo com delicadeza. Dessa vez, duas pernas apareceram.
Esperei um pouco, e, tornei a passar a agulha bem devagar.
O bicho pulou para fora, mas, não era um, eram dois, um casal de namorados.
Tomei um susto. Se a brecha não dava para ser vista a olho nu, como cabiam as criaturas?
Eram dois sapinhos, menos que meio centímetro de tamanho, ali, abraçadinhos, namorando na brecha que se formou entre o rejunte e o azulejo do banheiro. Uma brecha, tão sem brecha, que nem com o auxílio dos óculos, podia ver.
Não acreditei naquilo. Sei lá! Era algo muito engraçado, ver duas coisinhas quase imperceptíveis, se amando.
Perfeição demais ao meu gosto!
Aquilo me deixou admiradíssima.
Parei de mexer com os dois.
Fui buscar a lupa e através dela, fiquei examinando outras características deles, tentando saber quem era quem, no ato de amar.
Saíram pulando, abraçados, procurando se esconder, onde a claridade da luz não alcançava.
Continuei observando.
Namoravam... Descansavam... Respiravam... Relaxavam.
Não consegui descobrir quem era o rapaz, e nem, quem era a moça, ali, esquecida da vida, não sei por quanto tempo.
Depois, os dois resolveram cair no ralo do chuveiro, digo cair, porque não havia cabimento eu dizer que desceram. Caíram mesmo, literalmente.