Fabíola
Saí apressado arregaçando as mangas da camisa disposto a largar tudo, e não retornar jamais á aquele escritório de contabilidade fedorento onde eu trabalhava como contínuo, obrigando-me a conviver durante oito horas com aquelas pessoas nojentas fumando e baforando feito doidos, um cigarro atrás do outro em um espaço com seis mesas trepadas quase que uma nas outras. Apesar de eu nunca ter colocado um cigarro na boca, sentia a garganta grossa e uma tosse seca constante, recorrente ao convívio diário com aqueles consumidores inveterados fedendo a nicotina. O sol já quase se pondo às cinco e trinta da tarde, ainda com um calor exageradamente insuportável, meus miolos
pareciam derreter e, minha cabeça querendo explodir. Fui andando sem nenhum compromisso a passos lentos, decidindo entrar em uma padaria e pedir uma média, acompanhado de um pão francês lambuzado na manteiga e tostado na chapa quente. A cabeça já não doía tanto e, na espera, olhava a paisagem acinzentada de concreto armado em seus tons nostálgicos e melancólicos das avenidas Ipiranga com a São João. Foi aí que ela entrou! Altiva, em seu gingado vagaroso e devasso, vindo em minha direção. Meus olhos foram acompanhando cada detalhe do seu balançar, da cabeça aos pés. Chegou, sentou em uma das banquetas ao meu lado com um cigarro no vão dos dedos perguntando-me se eu teria fósforo ou isqueiro: respondi que não! Pediu que eu pagasse um café: balancei a cabeça, afirmando que sim. Convidou-me a um programa num hotel da Rio Branco: pensei topar, mas decidi que não. Apresentou-se: Fabíola, era seu nome! Conversávamos muitas coisas enquanto tomávamos café, e saímos dali parecendo que já nos conhecíamos a anos. No caminho, ela conseguiu acender o maldito cigarro, e depois, um após o outro. Seguimos em direção á praça Marechal Deodoro e nos sentamos a um banco. Conversamos mais, rimos bastante; estávamos íntimos. Ela me fazia bem! Entre papos e risos seu celular tocou, ela então atendeu. Virei para o lado disfarçadamente a fim de não ser inconveniente, mas num instante ela desligou. Me disse, ser um cliente: sorri, demonstrando não me importar. A noite já havia chegado, e eu nem me dei conta de que precisaria atravessar toda a cidade dentro do metrô. Falei que precisava ir; ela me convidou para seu apartamento... Topei! Bebemos, contamos piadas, rimos ainda mais! Falamos de nossas vidas, nossas dores, nossos amores; de tudo! Até aprendi a fumar! O dia foi amanhecendo, e acabei ficando, ficando até que me instalei de vez! Fabíola era assim: alegre, falante e apaixonante. Mudou radicalmente minha vida; mas ela me fazia bem! Dividimos despesas, contas, até sentimentos. Ela, profissional do sexo, e eu havia acabado de ser promovido, á uma vaga de contador.
De: Rodrigues Paz
(Autor)