A ilusionista

Era uma vez um jovem rapaz na flor da idade, que estava bem desesperançoso com sua vida. Andando a esmo e perdido quanto a suas ideias do futuro, encontrou um panfleto onde estava escrito: “Em breve o circo chega na sua vida!”

Felicidade.

O jovem mal conseguia se lembrar da última vez que esteve em um circo. Recordava-se de que há aproximadamente um ano pôde observar uma apresentação, mas era nas ruas, durou apenas alguns dias, e seu truque mais esperado, onde seria tirado um coelho da cartola, foi simplesmente substituído por um truque de cartas. Lembra-se de, há dois anos, ter ido em um circo meio distante, onde tinham cores frias e, mesmo ele tendo adorado o truque do coelho na cartola, sabia que um dia veria o truque sendo executado perfeitamente.

Então, mais animado do que esteve nos últimos anos, o jovem se arrumou, cuidou de si, arrumou a casa, e sabia que, dali em diante, sua vida poderia nunca mais ser a mesma. Vestiu sua melhor roupa, colocou seus melhores sapatos, perfeito para longas jornadas, e saiu, animado.

Chegando no circo, pôde admirar o nome cheio de lâmpadas “Circo delle illusioni” que até o fez perder o fôlego brevemente. Seguiu em direção até a bilheteria e chegando lá ouviu do caixa que ele era o único aguardado da noite. Foi então que entrou no circo e percebeu que estava sozinho dentro do picadeiro. Escolheu o que julgou o melhor lugar e se sentou.

As luzes se apagam.

Um holofote é aceso e vem um homem de estatura baixa e ele anuncia com uma voz de trovão que o show vai começar. Eis que surge uma bailarina, com a música mais delicada e levemente nauseante ao fundo. Ela dança e dança, até que o jovem se esquece de onde está, hipnotizado pela leveza e segurança da bailarina. A música acaba e o jovem aplaude, embasbacado pela beleza da bailarina. O trovão ecoa novamente e é anunciado o homem mais forte do mundo! Surge em sua frente na arena um homem descomunalmente forte, o qual anda imponente como o sol que nasce pelas manhãs do verão. O gigante, então já no centro da arena, começa a retirar pequenos pesos que estavam amarrados em seu corpo, revelando todos os seus músculos, como quem prova à humanidade que pode carregar todos os seus problemas em suas costas. O jovem, surpreso pela forma e força do gigante, bate palmas, quase incrédulo pela apresentação.

Sendo totalmente surpreendido pela voz do apresentador, é anunciado o palhaço. Com o restante do picadeiro em completo breu, apenas um único holofote ilumina o centro da arena. Eis que surge o palhaço, vindo de forma desengonçada e até meio cômica. Ele começa a esboçar algumas situações e o jovem ri, pois são coisas com as quais ele se identifica e faz com que ele se sinta confortável ali. Ele começa a achar que era esse o circo dos seus sonhos que realmente tinha chegado na sua vida. O trovão, sempre soando desconfortável em seus ouvidos, anuncia a ilusionista.

Euforia.

Tudo fica num completo escuro por alguns instantes, e quando novamente o picadeiro se ilumina, o jovem consegue ver uma das mulheres mais belas que já havia visto. Cabelos vermelhos como fogo, e que às vezes pareciam tomar tons roxos e rosas, um nariz fino e belos lábios.

A ilusionista, que tinha um físico de tirar o fôlego, aparentemente com uma idade próxima à do jovem, olha pra ele e começa seu número. Na apresentação, ela revela ser também a bailarina, que dança suavemente. Após alguns segundos se apresenta como sendo o homem mais forte do mundo, depois revela ser também o homem da bilheteria, que havia o recebido tão bem, e o locutor cujas verdades causavam desconforto. Quando retornou à forma de ilusionista, pegou uma cartola.

Já cego de admiração pela Ilusionista, o coração do jovem gelou.

Chegou a hora.

Tudo aquilo pelo que ele esperava.

O truque do coelho na cartola.

Quando rufaram os tambores e ela foi fazer o truque que ele mais esperava, tudo se apagou.

O jovem, sem conseguir entender o que acabou de acontecer, tenta abrir os olhos, esfregando-os, para ver se conseguia enxergar algo em meio à escuridão. Eis que ele vê que não tem ninguém com ele no circo. O local, que agora, iluminado apenas pela luz do luar entrando pelos vãos na lona, mostra pra ele a realidade. Não tinha ninguém ali, pois o circo nunca esteve funcionando naquele dia e nem parecia que iria funcionar em algum momento.

Nunca houve nenhum dos personagens que ele imaginou e suas expectativas foram criadas em vão. Seu tão esperado coelho nunca esteve lá.

E ele finalmente entendeu o nome do circo, pois tudo não passava de uma ilusão.

O rapaz, conflitante sobre o que sentia, se era alívio ou tristeza, escolheu que estava na hora de ficar em silêncio e apreciar a sua jornada para casa, pois ele sabia que ao menos ela era real.

Matheus Camargo e Thayná Marinho
Enviado por Matheus Camargo em 17/09/2020
Código do texto: T7065070
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