Plantação de homens (03.08.2017)
Falamos para ele que iríamos visitar o vovô e, para mim, foi meio difícil falar que, na verdade, seu avô não “morava em um lugar” de verdade, como ele havia perguntado.
- E onde ele mora, mamãe? – Foi nesse momento que acabei congelando, mas meu marido logo percebeu e tomou a palavra.
- Ele mora em um lugar diferente, amigão – disse, abaixando-se para ficar na altura dos olhos do nosso filho.
- E onde é, papai? – Os olhinhos dele brilhavam de curiosidade ao perguntar isso, o que me deixou bem mais tranquila e também feliz ao assistir aquela cena.
- Ele mora em um lugar onde existe uma plantação de homens. Você quer ir até lá para ver como é?
- Claro – nosso filho respondeu e esticou os bracinhos para que seu lindo pai o pegasse no colo.
Quando chegamos ao Metropolitano, vi o rosto do nosso pequeno procurando a tal plantação. Chegamos ao túmulo de meu pai e, depois que rezamos... Bem, nunca vou me esquecer dessa cena...
Ainda nos braços do pai, nosso filho disse a coisa mais linda do mundo:
- Ah, papai. Então a gente planta as pessoas que morrem para outras pessoas poderem nascer. Como se, para os bebês nascerem, outras pessoas têm que morrer, certo? Como se elas dessem a vida por outra vida que ainda vem, né, papai? – Olhei para meu marido e notei que ele tentava segurar o choro.
Até hoje, nos surpreendemos com o fato de que as crianças, várias vezes, conseguem ter mais percepção sobre tudo e de forma até melhor do que uma pessoa já adulta e com mais experiências.
Paulia Barreto