A GAROTA DO OUTDOOR

Rafael debruçou -se sobre o colo de Simone e implorou para que ela não terminasse o namoro. Ela meneou a cabeça o contrariando. Ele chorou. Não pôde conter-se. Havia abdicado de coisas muito importantes por ela, mas, em vão. Eram pessoas muito diferentes. Ele era um amante fiel e estava apaixonado por ela. Simone vivia dissolutamente. Queria viver a vida loucamente e o via apenas como um mero passatempo.

Rafael entrou no carro e dirigiu pela rodovia deserta e escura por muitos quilômetros até que viu uma luz vermelha acender no painel. Todo castigo era pouco. Não bastasse a desilusão amorosa a que tinha se submetido, ainda teria que ficar a pé na estrada, já que não havia muita circulação de veículos por conta do feriado. Seu carro ficara estacionado justamente debaixo de um outdoor de propaganda de roupas íntimas, no qual uma modelo extremamente linda parecia olhar fixamente para ele. Rafael achou graça disso. Resolveu brincar um pouco para descontrair-se. Pegou uma garrafa de vinho que comprara para tomar com Simone, pôs duas taças e ofereceu um brinde à modelo a quem chamou de Luna, em homenagem à linda Lua que iluminava a noite. Conversou com ela como se de fato existisse e, num determinado momento, resolveu provar a sua própria fé. Desejou profundamente poder estar com ela naquela noite. Parecia algo tão irreal, mas de repente, a luz do farol do seu veículo foi aumentando a intensidade ao ponto de quase cegá-lo e quando se apagou, inexplicavelmente, Rafael viu a linda moça deitada sobre a relva. Parecia estar desacordada, mas aos poucos foi recobrando a consciência. Rafael custou a acreditar no que estava ocorrendo e relacionou o evento aos goles de vinho que tomara. Aproximou-se dela, perguntou se estava tudo bem e iniciou breve diálogo. Não demorou muito para perceberem que havia muito em comum entre eles. Rafael estendeu uma toalha sobre a grama e ali compartilharam outras taças de vinhos e muitas confidências amorosas. Foi a noite mais incrível que Rafael já vivera. Aos poucos o sono foi lhe dominando. Acordou com a luz do Sol refletindo sobre os seus olhos. Ele compreendeu que tudo não passara de um bonito sonho, mas ficou confuso ao perceber que a borda do cálice estava suja de batom. Os dias seguintes foram completamente diferentes. Já não pensava em Simone e acreditava cegamente que voltaria a se encontrar com Luna. Por que ela se fora? Essa foi a pergunta para a qual precisava buscar uma resposta. Retornou ao local do outdoor por diversas vezes buscando reproduzir cada movimento a fim de repetir aquela experiência. Todavia, todas as suas tentativas foram frustradas. Um dia, porém, enquanto dirigia, veio à sua mente a resposta que tanto buscava. Percebeu que falhara no momento em que fizera o seu pedido. Com certeza fora isso. Seu pedido consistia em estar com Luna, exclusivamente, naquela noite. Essa restrição temporal determinara a sua falta de sorte. Sob a luz dessa nova perspectiva, Rafael decidiu retornar ao local do outdoor. Dessa vez, porém, cuidou em fazer tudo exatamente como naquela noite. Parou o seu veículo no mesmo lugar. Estendeu a toalha sobre a grama e preparou o mesmo vinho. Fixou os olhos na figura do outdoor e pôs mais uma vez a sua fé em prova. Nesse novo pedido deixou claro que desejava estar para sempre ao lado de Luna. Mais uma vez o local foi tomado por algo fantástico, uma luz incandescente brilhou e o cenário foi sacudido por uma energia esplêndida e magnífica. À medida que as coisas foram ganhando corpo viu-se no chão uma toalha estendida. Sobre ela, uma garrafa de vinho com duas taças. Viu-se também um veículo abandonado com as portas abertas e na tela do outdoor, ao lado da linda modelo aparecia agora a figura de um jovem bem simpático.

Vander Cruz
Enviado por Vander Cruz em 15/06/2020
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