Quem fica com o final feliz?
Diante de toda verdade escancarada, o que dizer?
Tolice é tentar justificar o injustificável e, mesmo assim, o fiz.
Atrevi usar da minha credulidade que ele tanto conhecia para dizer que se tratava de um erro que me perseguia desde outra vida.
Enquanto ele ria, eu lançava frases soltas:
Você não me entende... não crê... não me dá alternativas para uma reparação. Você apenas diz “Você fez porque amou e para isso não existe conserto, pois não existe erro”.
Não existe erro?
Quem és tu que me fez admirá-lo logo após tê-lo perdido?
Em meio a erros e tropeços, envolvida em tamanha vergonha, ele dizia: “Não te dizimo das consequências, já que não cabe a mim segundo a tua adorada doutrina, mas te dizimo da culpa que possas vir a sentir”.
Quem era aquele homem que eu não conhecia?
E os gritos? E a raiva?
Nada existia além de um olhar fixo em meus olhos como quem espera ver a alma do outro para saber se ainda resta algo ali dentro.
Você me questionava sobre as histórias que já me ouviu contar tantas vezes. Daquele lobo que se apresentava isento de maldades, disposto a resolver todos os problemas de sua presa para abocanhá-la logo mais.
Seria eu a menina arrumadinha, doce, toda certinha, com bons princípios e de bons costumes a quem ele facilmente enganaria?
Assim o fez.
“Você não percebeu?”, ele me questionava tornando aquilo um monólogo.
“Por que és sempre tão desprevenida? Agora não adianta mais!”, ele dizia em tom suave diante do meu choro.
“Seu choro desesperado é de vergonha ou pela incapacidade de saber a quem se entregar? Que tolice!”, ele dizia em tom baixo.
“Choras por não querer um amor que fez juras para uma vida toda?”
Um amor que nem era dele...
“Ah, você com seus contos de fadas... claro que não perceberia. Conhecendo você como conheço, sei bem dessas suas paixões que tanto lhe despertam. Contos em que morrer e matar por amor adoçam os lábios de quem os lê. Que ironia! Percebes agora? Os reconhece?”
Mas aquela versão do conto ninguém havia me relatado.
E o final feliz? Para quem, de fato, ele seria?
Descobri e aprendi que em contos de fadas onde a mocinha se apaixona pelo lobo mau não há finais felizes.
Há aqueles que saem feridos e aqueles que saem destruídos. Mas, você não. Você é razão inatingível. Um ser sublime que me desperta a vergonha. A razão capaz de me apresentar à versão em que a peça ferida, em meio a decepções e incrédulo diante de tamanha ingenuidade de sua amada, conseguia arrumar forças para dizer que tudo ficaria bem, e buscava formas de resgatá-la da armadilha em que a doce moça deixou-se prender.
O encontro com o lobo mudou a vida da doce moça, arrastando-a para o fundo do poço que, por mais uma ironia, seria salva pelo caçador que tanto foi ferido durante a travessia.
Um pouco tarde para isso, mas contos de fadas, definitivamente, não me instigam mais.
Os erros estarão sempre aqui, impregnados no meu ser, acusados pela minha consciência, mas jamais pelo som da tua voz a fim de me fazê-los recordar.