142 - Cento e Quarenta e Dois
142 – Cento e Quarenta e Dois - Ficava muito tempo na mesma página do seu caderno de inquéritos. Depois de tantas perguntas e respostas para tentar saber sobre os outros, depois de tantas mentiras, invenções e recados fúteis, depois de coleccionar caligrafias, desenhos toscos e outras marcas de afecto ou indiferença fingida, recebeu o caderno, demorando as mãos nas suas, lambeu-o com o olhar mais doce, intenso e profundo que alguma vez lhe foi dado e disse: - Sabes tudo de mim. O que poderias ler nas respostas que aí escrevesse seria lido por outros, interpretado de muitas maneiras, sentido com as emoções que cada um tivesse no momento e eu não quero que a minha alma vagueie por aí. Respondo assim, com um sinal que me retrate, represente, que seja eu na tua mente sempre que olhes. Riscou então a página em branco com uma linha azul.
Edgardo Xavier.