MAR ABERTO

Já faz tempos que estou boiando por aqui ... Bem, pelo menos é o que eu acho. Pois já faz tanto tempo, tanto que estou por aqui que nem mais acredito em seu significado. Tempo é nome, e nome é explicação, mas explicar dando nome não é descrever, pois se eu descrever o tempo, direi que ele é algo que da para as coisas um início e um fim, mas ao mesmo tempo, ele não fala da origem desse começo, e nem para onde vai este final, então... para que merda eu o tenho que chamar de tempo, se ele mesmo não acaba. Ha não sei... me perdoe essas confições, é que já faz tanto tempo que boio por aqui. Devo ter perdido os limites dos meus pensamentos. Nas horas de solidão, são diversas as coisas em que pensamos, as vezes nem notamos, porque isso consome nossa reação né, devora nosso estado, nossa visão; Pensar é tão misterioso, doloroso e inútil, que nem sei qual é o motivo de tratar os pensamentos como algo tão importante, já que pensar é um caos livre, e premeditar é uma organizada prisão... não sei! faz tanto tempo.

Lembro de quando cai daquele barco. Fico me perguntando agora quem poderia imaginar, quem pensaria que algo assim iria acontecer? Como eu saberia que o tempo ia mudar, se não tinha nem previsão? Nao havia nem um verso de entoacao, eram prosas repetidas, ventos abafados e fracos de mais para sussurrarem alguma coisa. Era insolacao...

Há, fa faz tanto tempo, que confesso que meus braços estão fracos de mais, derrotados. O cansaço não suspende um minuto sequer dessa maldita paralizia .Esse peso afogando meu corpo feito uma doença devora a carne, as veias e o oxigênio ... É como se tudo fosse deteriorando numa chaga moral, sugando toda a minha energia, do pé a cabeça, que as vezes eu sinto minha mente mergulhar , quieta, sem perguntar, ou procurar qualquer resposta; Rendendo-se a derrota. Apenas derrota

É...

Quem diria, que aos vinte e um no século vinte um, eu só gritaria para que minha voz, aos sete ventos, confeçasse - Bingo, sou um dos números da sua cartela, e mais nada!

Quem diria...

Adimito que muitas das vezes eu peço que Deus me livre das memórias. Pois ja faz tanto tempo que boio por aqui, que seria um penny dreadful maltratado, adaptado por um realizador de séries cômicas recepcionadas por um publico infanto juvenil, e isso não é exagero, pois quando se boia na solidão, filme algum que não tenha enredo para um longa metragem agrada aos olhos mais comuns. Quem é que veria um filme chamado, meus vinte e um ?? Não seria puxado, seria chato! ... o que eu diria? o que pensaria? Talvez eu até lhes compartilhasse que minhas atitudes mal aproveitadas foram por causas futeis, por medo da liberdade, ou de como conduzi-la. Talvez achasse que a melhor metafora do livre era um automóvel, onde se tem escolhas, estradas, opções de regras e a responsabilidade de vidas nas costas, e isso tudo me apavorasse, porque minha alma infantil acha melhor estar no banco de trás, bebado, fazendo merda, deixando a culpa de qualquer acidente para o motorista , mesmo que a ele não fosse a ação diretamente dirigida. Foda-se, a culpa é do motorista... Deve ser o medo de cair, medo de errar, sabe ? como garotos covardes que tem medo de enfrentar forças maiores, de desenvolver coragem para dormir no escuro. Medo de ser um vira lata. É mais prático ter um dono, latir segurança sem ter força para moder, num esforço falso, cheio de simulação para garantir a minha ração... Há! Falar disso tudo, detalhe por detalhe, é como falar para a turma das aulas que matei, explicando sobre a matéria que não me contorna...

Deus ... me perdoe, eu uso nomes com duvidas, ou como bem disse, eu os uso sem duvidas, pois não as tenho mais. Nesse momento tudo é nada mais que um anti alergico para a alma não morrer entupida de secreção pela as doenças do frio que nós mesmo criamos, pois como sabemos, se for descuidado ficamos tão debilitado... por isso, as vezes, uma hora ou outra, é preciso acreditar. Seja lá o que for, acho que é o melhor remédio.

Essas lembranças, me desculpe, mas essas lembranças Me deixam louco!!. São tudo o que vem dar vida e mata. Essas merdas estão me sugando logo agora, malditas! Sinto elas me matarem aos poucos, ou melhor, me fazendo viver do pouco que sobrou, sofrendo, sabendo elas que a muito tempo eu penso que a vida é um sofrimento, um sofrimento para nos tornar vivos, lutando por algo, perseguindo o algo, adorando a maga, jogando amarelinha, perseguindo o céu. Somos um personagem tentando conquistar a vibora com um sax entupido de saliva, para compreender que no final, por mais que a encante, nada muda a sua natureza... que merda, que merda! Essa porra não serve para nada. Perdi minha mulher e minha mãe naquele barco, perdi as duas. Faço de tudo para esquecer esse afeto, mas não consigo. Que homem consegue esquivar da dor quando escapa de suas mãos a beleza e o amor juntos ? É horrivelmente belo, uma coisa dessas . É um drama de vida que chega na sua estética pura de sentido, propósito, e fuga, pois se reparar bem, tudo foi para a casa do caralho. Tudo se perdeu. A vida é um sofrimento, a perda é um ganho, para assim prender o homem que se coloca em fuga da condição. Mas não adianta! A obra prima é o que mais nos facina, e a morte é essa obra prima, seja para quem a observa, ou para quem a sente, é uma obra prima, é aquela fotografia desabando na sua frente sem que possa ser tocado, mas sentida e desconfigurada. Obra prima... A morte ! Uma mulher morrendo é a coisa mais bela, e duas, é a mais espantosa. A beleza se foi, e o amor também. Minha mãe me amava, e minha mulher me encantava... mas as vezes ...

O que é o amor ? Tem horas que isso não passa de um nome. Será que amamos a vida, por isso dói tanto ve-la definhar ?

Eu ja não escuto mais meu delíreos, é que ja faz tanto tempo ...

Entenda, viver é ser vento. Seja furacão ou relento, não temos direção! Só estamos de passagem ...

TVeiga
Enviado por TVeiga em 29/11/2019
Código do texto: T6806678
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