AS DESVENTURAS DE SEU DICO
Estava com mais de 50 anos e nunca fora casado. Trabalhava como servidor federal na capital e recebia um bom salário, o que lhe permitiu comprar uma boa casa, um carro e levar vida confortável. Só lhe faltava uma companheira.
Tirou férias e foi gozá-las no litoral do estado, longe de casa. Trinta dias de descanso em cidade pequena, sem barulho de tráfego, correria e agitação. Hospedou-se em uma pousada e todos os dias fazia caminhadas pela areia, se exercitava, tomava banho de mar e depois se recolhia ao quarto para uma ducha, ler, ver TV e descansar.
Certo dia foi longe, até uma vila de pescadores. Passando por modesta casa à beira mar, viu deitada em uma rede, bonita moça que muito lhe chamou a atenção. Meio sem jeito dirigiu-se a ela com o pretexto de obter informação sobre determinado endereço. A moça o atendeu com curiosidade e solicitude. Foi o que bastou para Seu Dico voltar outras vezes para com ela conversar.
Quando se deu conta, estava apaixonado, e Anita, este era seu nome, parecia não desgostar dele. Convidou-a, então, para ir morar com ele na capital, sob promessa de casamento. A família dela não fez objeção.
E a vida seguiu seu curso. Tudo ia bem. Ele fazia planos enquanto sua companheira o ajudava com os afazeres domésticos. Ela parecia feliz.
Até que ele achando que a mulher tinha pouco estudo, terminara o colegial, merecia voltar a estudar para se equiparar ao seu nível intelectual. Resolveu fazer-lhe a matrícula em um cursinho pré-vestibular.
E Anita, filha de pescador, que vivera sua adolescência naquela praia distante, com pouca distração, vida pobre e sem conhecer muita gente, de repente viu-se em uma sala com cerca de 100 colegas barulhentos, cheios de energia como ela. Não demorou para que conhecesse Alceu, um garoto bonito e seguro de si. Estabeleceu-se uma amizade que logo evoluiu para namoro. Entretanto, Alceu só estudava, não trabalhava e não podia lhe oferecer o conforto da casa de Seu Dico, nem as joias, as roupas de grife e o carro que este lhe dera para ir ao colégio. É claro que só seu protetor não sabia deste arranjo.
E a vida seguia sem sobressaltos, não fosse um porém. Os meninos da rua que não eram tolos, logo descobriram que a moça não era fiel ao seu benfeitor.Toda vez que Seu Dico saía à rua gritavam: “Corno! Seu Corno!” E se escondiam atrás dos automóveis estacionados.
Extrema humilhação mas o homem não se deixava abater e provocava:
“Vocês estão é com inveja porque não têm uma mulher bonita como a minha”